Uvas Viníferas para Processamento em Regiões de Clima Temperado
Clima
O clima possui forte influência sobre a videira, sendo
importante na definição das potencialidades das regiões para a cultura. Ele
interage com os demais componentes do meio natural, em particular com o solo,
assim como com a cultivar e com as técnicas de cultivo da videira.
Pode-se afirmar que grande parte da diversidade encontrada
nos produtos vitivinícolas, seja quanto aos tipos de produtos, seja no que diz
respeito aos aspectos qualitativos e de tipicidade, deve-se ao efeito do clima
das regiões vitícolas. Devem-se considerar três conceitos para diferenciar
escalas climáticas de interesse da viticultura: a) macroclima, ou clima
regional, que corresponde ao clima médio ocorrente num território relativamente
vasto, exigindo, para sua caracterização, de dados de um conjunto de postos
meteorológicos; em zonas com relevo acentuado os dados macroclimáticos possuem
um valor apenas relativo, especialmente no que se refere à viticultura.
Inversamente, um mesmo macroclima poderá englobar áreas de planície muito
extensas. b) mesoclima, ou clima local, que corresponde a uma situação particular
do macroclima. Normalmente é possível caracterizar um mesoclima através dos
dados de uma estação meteorológica, permitindo avaliar as possibilidades da
cultura da uva. A superfície abrangida por um mesoclima pode ser muito variável
mas, nas regiões vitícolas, trata-se normalmente de áreas relativamente
pequenas podendo fazer referência a situações bastante particulares do ponto de
vista de exposição, declividade ou altitude, por exemplo. Muitas vezes o termo
topoclima é utilizado para designar um mesoclima onde a orografia constitui um
dos critérios principais de identificação, como por exemplo o clima de um vale
ou de uma encosta de montanha. c) microclima, que corresponde às condições
climáticas de uma superfície realmente pequena. Pode-se considerar dois tipos
de microclima (Carbonneau, 1984): microclima natural - que corresponde a
superfícies da ordem de 10 m a 100 m; e, microclima da planta - o qual é
caracterizado por variáveis climáticas medidas por aparelhos instalados na
própria videira. O termo genérico de bioclima é utilizado para essa escala que
visa o estudo do meio natural e das técnicas de cultivo.
A influência do clima, considerando os principais elementos
meteorológicos e fatores geográficos do clima sobre a videira, é descrita a
seguir, em particular nas escalas macro e mesoclimáticas.
Elementos Meteorológicos do Clima Temperatura
A temperatura do ar apresenta diferentes efeitos sobre a
videira, variáveis em função das diferentes fases do ciclo vegetativo ou de
repouso da planta.
Temperaturas de inverno: a videira é bastante resistente às
baixas temperaturas na estação do inverno, quando se encontra em período de
repouso vegetativo. Ela pode suportar, sem que haja a morte da planta,
temperaturas mínimas de até -10,0°C a -20,0°C no caso da espécie Vitis vinifera
L. O frio invernal é importante para a quebra de dormência das gemas, no
sentido de assegurar uma brotação adequada para a videira. Em condições de
pouco frio invernal, que podem ocorrer nos climas subtropicais, torna-se necessário
a adoção de tratamentos e práticas culturais adequados visando garantir uma
porcentagem satisfatória de brotação das videiras.
Temperaturas de primavera: de forma genérica considera-se a
temperatura de 10°C como mínima para que possa haver desenvolvimento
vegetativo; do final do inverno ao início da primavera, quando ocorre a
brotação das videiras, temperaturas baixas podem ocasionar geadas tardias que
causam a destruição dos órgãos herbáceos da planta. Assim, regiões com elevado
risco de geadas durante o período vegetativo da videira devem ser evitadas. O
plantio de cultivares de brotação tardia em locais com riscos baixos a
moderados de geadas é prática corrente na viticultura. No período de floração
da videira, temperaturas iguais ou superiores a 18°C são favoráveis, sobretudo
se associadas a dias com bastante insolação e pouca umidade. Temperaturas de
verão: a maior atividade fotossintética é obtida na faixa de temperaturas que
vai de 20°C a 25°C, sendo que temperaturas a partir de 35 °C são excessivas. Na
estação de verão, a qual via-de-regra coincide com o período de maturação das
uvas, temperaturas diurnas amenas - possibilitando um período de maturação mais
lento são favoráveis à qualidade. Igualmente a ocorrência de noites
relativamente frias favorece o acumulo de polifenóis, especialmente as
antocianas nas cultivares tintas e a intensidade dos aromas nas cultivares
brancas. Condições térmicas muito quentes podem resultar na obtenção de uvas
com maiores teores de açúcares, porém com baixa acidez.
Temperaturas de outono: elas afetam o comprimento do ciclo
vegetativo da videira, que é importante para a maturação dos ramos e o acúmulo
deRESERVAS pela planta. A ocorrência de
geadas outonais (precoces) acelera a queda das folhas e o fim do ciclo vegetativo
da planta.
Insolação e radiação solar
A videira é uma planta exigente em luz, requerendo elevada
insolação durante o período vegetativo, fator importante no processo da
fotossíntese, bem como na definição da composição química da uva. A radiação
solar recebida pela planta em determinado local é função da latitude, do
período do ano, da nebulosidade, da topografia e da altitude, dentre outros.
Normalmente uma maior insolação está correlacionada a um menor número de dias
de chuva, o que é favorável, já que as condições brasileiras são de alta
umidade no sul do Brasil. Os anos de maior insolação produzem uvas com bons
teores de açúcares e com acidez adequada. De uma maneira geral, elevada
insolação, quando aliada ao excesso de calor, é prejudicial à qualidade dos
produtos para a agroindústria, resultando em mostos pouco equilibrados, com
baixa acidez.
Pluviometria
A precipitação pluviométrica é um dos elementos mais
importantes do clima em viticultura. A videira é uma cultura bastante
resistente à seca. Existem regiões que produzem, sem irrigação, com
precipitação pluviométrica de apenas 250 m a 350 m no período que vai da
brotação até a maturação das uvas. Existem regiões onde ela subsiste em
condições ainda mais secas. A demanda hídrica da videira varia em função das
diferentes fases do ciclo vegetativo. Para a determinação de suas necessidades
hídricas deve-se considerar, também, o tipo de solo e a cobertura do mesmo
(vegetado ou não vegetado).
Para a videira interfere não somente a quantidade de chuvas,
mas sua intensidade e o número de dias ou de horas em que ela ocorre. Ainda,
deve-se ter em conta eventuais perdas por escorrimento superficial ou por
percolação.
As chuvas de inverno têm pouca influência sobre a videira,
mas são importantes para as reservas hídricas do solo, necessárias para o
início do ciclo vegetativo da videira. Durante a primavera, as chuvas são
importantes para o desenvolvimento da planta, porém, quando em excesso,
favorecem a ocorrência de algumas doenças fúngicas da parte aérea.
De uma maneira geral, observa-se que nas condições
sul-brasileiras médias, as chuvas de verão ocorrentes caracterizam um clima de
ausência de seca para a videira. Elas tendem a ser excedentárias. Em períodos
chuvosos durante a fase de maturação das uvas, verifica-se com freqüência a
colheita antecipada das uvas, em relação ao ponto ótimo de colheita. Essa
prática adotada pelo viticultor para evitar perdas de colheita causadas por
podridões do cacho impõe limites à qualidade das uvas destinadas à agroindústria.
Após a colheita das uvas, a importância das chuvas diminui,
podendo resultar em crescimento da planta e na ocorrência de doenças fúngicas
da parte aérea.
Cabe destacar que a ocorrência de granizo é um fenômeno
prejudicial à viticultura, onde os maiores danos são causados durante o período
do ciclo vegetativo que vai da brotação à colheita das uvas.
Umidade relativa do ar
A umidade relativa do ar é importante para a viticultura.
Climas mais áridos possuem menor umidade relativa do ar e, climas mais úmidos,
como o encontrado nas condições sul-brasileiras, apresentam umidade mais
elevada. Tais condições são favoráveis à ocorrência de certas doenças fúngicas.
Estimulam também o desenvolvimento vegetativo da videira.
Ventos
As correntes de ar que trazem massas de ar com diferentes
características repercutem sobre as condições meteorológicas, com implicações
sobre a temperatura e a umidade, bem como sobre a evapotranspiração do vinhedo.
Ventos fortes podem causar danos à vegetação, com a quebra dos ramos. Na floração
uma brisa ligeira é favorável à disseminação do pólen. Além dos elemento
meteorológicos referidos é importante salientar a importância da reserva
hídrica do solo. Ela é função da capacidade de retenção de água do solo, do
aporte de água pela chuva e irrigação, das perdas por escorrimento superficial
e por percolação, e da evapotranspiração do vinhedo, que inclui a transpiração
da planta e a evaporação do solo. As condições de disponibilidade hídrica do
solo para a videira, nos diferentes estádios da planta afetam o desenvolvimento
e o vigor dos ramos, influenciando a qualidade da uva destinada à
agroindustrialização.
Fatores geográficos do clima
Latitude: a latitude implica num efeito sobre a temperatura
do ar, a qual diminui a partir do Equador à medida em que aumenta a latitude em
direção aos
Pólos. A latitude é também determinante no fotoperíodo e na
radiação solar total recebida nas diferentes estações do ano.
No Brasil, a viticultura destinada à agroindústria, é
encontrada desde os 8°
(Vale do Submédio São Francisco) até os 32° de latitude Sul
(Serra do Sudeste no Estado do Rio Grande do Sul). Está, portanto, localizada
em latitudes baixas a médias, situação bastante diversa da viticultura
desenvolvida nas latitudes mais elevadas das regiões setentrionais da Europa e
da América do Norte, onde a viticultura chega até os 52º de latitude Norte, e
onde o efeito do fotoperíodo maior é decisivo para viabilizar o cultivo da
videira.
Altitude: o efeito mais importante da altitude para a
viticultura é o térmico, já que 100 metros de elevação representam diminuição
ao redor de 0,6°C na temperatura média do ar. Alguns países quentes buscam
obter condições térmicas mais favoráveis à viticultura em zonas de maior
altitude, compensando em certa medida o efeito latitude. No Brasil, onde as
condições térmicas tendem a ser elevadas, a busca de áreas de altitude é
observada nas principais regiões de produção, visando condições de produção
menos quentes e a valorização da qualidade dos produtos na viticultura clássica
de uma colheita por ano. São comuns altitudes superiores a 600 m no Rio Grande
do Sul, podendo chegar a mais de 1.200 m em São Joaquim, Santa
Catarina.
Exposição e declividade
As condições de relevo possibilitam a seleção de áreas para
a viticultura com um mesoclima particular. Para a viticultura sul-brasileira é
o caso das encostas com exposição Norte. Normalmente, as encostas são menos
férteis que as condições de fundo dos vales e com maior insolação e drenagem,
possibilitam colheitas menos abundantes, porém geralmente com melhor qualidade.
As condições de declividade do terreno irão definir,
juntamente com a exposição, a incidência de maior ou menor insolação. Situações
de alta declividade do terreno não são recomendadas, seja pelos riscos de
erosão, seja pela dificuldade de mecanização.
Maritimidade
Pela sua condição oriental no continente americano, o Brasil
sofre forte influência oceânica, com implicações sobre o clima das regiões
vitivinícolas. Embora existam condições onde a posição geográfica apresenta
alguma continentalidade - como a região da Campanha no Estado do Rio Grande do
Sul, o efeito sobre as amplitudes térmicas anuais não chega a ser elevado, como
ocorre nos climas de tipo continental.
O clima das regiões vitivinícolas brasileiras produtoras de
vinhos finos
A viticultura mundial destinada à agroindústria está
sobretudo concentrada entre 30º e 50º de latitude Norte e entre 30º e 45º de
latitude Sul. Os principais climas ocorrentes são os climas de tipo temperado,
de tipo mediterrâneo e climas com diferentes níveis de aridez. No Brasil os tipos
de clima ocorrentes nas regiões vitivinícolas produtoras de vinhos finos com
uma colheita anual são de tipo temperado e subtropical.
As Figuras 1 e 2 exemplificam condições do regime térmico,
de chuvas e de insolação em regiões vitivinícolas produtoras de vinhos finos
nos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, respectivamente, ambos
localizados no Sul do
Brasil. Nelas observa-se que o regime térmico é bastante
diverso em função da região, sendo que as temperaturas mais elevadas
encontram-se na Campanha (Figura 1) e as mais amenas em São Joaquim (Figura 2).
A insolação também é bastante variável, sendo maior nas regiões da metade sul
do Rio Grande do Sul. A distribuição das chuvas ocorre de forma bastante
homogênea ao longo do ano nas regiões da Serra Gaúcha, Alto Vale do Rio do
Peixe e São Joaquim, com valores médios sempre superiores a 100 ou 120 m
mensais. Já na Campanha e na Serra do Sudeste, em alguns meses as chuvas são um
pouco inferiores a 100 m mensais em média. Registra-se o fato de as figuras 1 e
2 apresentam apenas uma condição climática para cada região, a qual seria mais
diversificada caso fosse analisada a variabilidade do conjunto geográfico
compreendido pela região.
Estas situações caracterizam condições macroclimáticas
diferenciadas, com importantes reflexos sobre o comportamento fisiológico da
videira e sobre o potencial qualitativo das uvas produzidas em cada região.
Tais características indicam também que cada região encontrará melhores
condições para a produção de certas variedades, bem como tipos de vinhos. A
tabela 1 apresenta a data média de brotação e da colheita, bem como o número
médio de dias e a soma térmica da brotação à colheita de algumas cultivares de
videiras da Serra Gaúcha. A brotação inicia na 3ª década de agosto para as
cultivares precoces e se estende até o final de setembro para as cultivares
tardias. A data da colheita concentra-se no período que vai da 3ª década de
janeiro até a 1ª década de março, respectivamente para as cultivares de
maturação precoce e tardia. Verifica-se que cada variedade necessita de uma
soma térmica distinta para atingir a maturação das uvas. Tais valores, que
variam entre 1.200 e 1.600 graus-dia para as diferentes cultivares listadas na
tabela 1, podem ser utilizados para estimar a data de colheita em outras
regiões. Observa-se, no entanto, que esta estimativa pode ser apenas aproximada
já que em distintas regiões ocorrem interações entre o clima, a variedade, o
solo e as condições de manejo.
Em cada região produtora, as variáveis climáticas apresentam
comportamento diferenciado ao longo do ano, incluindo as temperaturas, a
insolação, a precipitação pluviométrica e os índices climáticos vitícolas
(tabela 2). As regiões com maior índice térmico eficaz apresentam uma data de
colheita mais precoce que as de menor índice. A tabela 2 apresenta, ainda, a
classificação das regiões, para os mesoclimas apresentados, segundo o
"Sistema de Classificação Climática Multicritério Geovitícola",
demonstrando o enquadramento das regiões em distintas classes de clima em
relação ao potencial heliotérmico e regime hídrico do ciclo da videira e à
condição nictotérmica afeta à maturação das uvas.
O clima na tipicidade dos vinhos brasileiros
Os fatores de qualidade dos vinhos e outros produtos
vitivinícolas nas diferentes regiões é função do clima, do solo, da cultivar,
das técnicas de cultivo e dos sistemas de processamento empregados. As
características climáticas da vitivinicultura brasileira são bastante
particulares e distintas daquelas encontradas na maioria dos países
vitivinícolas. Tal situação confere aos produtos um conjunto de características
e uma tipicidade própria. Essa tipicidade deve-se em grande parte ao efeito
clima. Resulta, igualmente, da ampla gama de cultivares utilizadas. Os vinhos
produzidos de uvas européias apresentam tipicidade que varia de região para
região nas condições brasileiras.
Tabela 1. Data média de brotação (Db), data média da
colheita (Dc), número de dias e soma térmica média da brotação à colheita de 1
cultivares brancas e tintas destinadas à elaboração de vinhos finos na Serra
Gaúcha, RS (dados fenológicos do Banco Ativo de Germoplasma da Uva e dados
meteorológicos da Estação Agroclimática da Embrapa
Uva e Vinho, Bento Gonçalves, RS).
Cultivar Branca Tinta
Data média de brotação
Data média de colheita (Dc)
Número de dias médio
da Db e Dc
Soma Térmica média da Db à
Tabela 2. Dados climáticos médios, índices bioclimáticos
médios e respectivas coordenadas geográficas das 5 regiões produtoras de vinhos
finos do Sul do Brasil: Serra Gaúcha, Serra do Sudeste e Campanha no Rio Grande
do Sul, São Joaquim e Alto
Vale do Rio do Peixe em Santa Catarina.
Estado/Região Vitivinícola Rio Grande do Sul Santa Catarina
Coordenadas geográficas, dados climáticos, índices
bioclimáticos e classificação pelo
"Sistema CCM Geovitícola"
Unidade de medida
Serra Gaúcha
Serra do
Sudeste Campanha São Joaquim
Alto Vale do Rio do Peixe
Coordenadas geográficas (referência para os dados
climáticos) Latitude Latitude S 29°10' 30°33' 30°53' 28° 18' 27°00'
Dados climáticos
média do ar - média anual
Temperatura
Temperatura
Precipitação pluviométrica -
Índices bioclimáticos (do período ativo de vegetação: 01.09
a 30.04)
Temperatura média do ar -
Precipitação
Índice térmico
Sistema CCM Geovitícola1
Índice heliotérmico de
Huglin (IH)
- Temperado quente
Temperado quente Quente Frio Quente
Índice de frio noturno (IF)
(Classe / Subclasse)
De noites temperadas / C
De noites temperadas / B
De noites temperadas / B
De noites frias
De noites temperadas / B
Índice de seca (IS) m Úmido Úmido Subúmido Úmido Úmido
1 - Índices climáticos vitícolas do Sistema de Classificação
Climática Multicritério Geovitícola, classes do clima e intervalos de classe
(Tonietto e Carbonneau, 2000):
(>3000). IF - De noites muito frias (IF < 12°C); De
noites frias (>12°C IF < 14°C); De noites
IS - Úmido (IS >150mm); Subúmido (< 150mm IS >
50mm); De seca moderada ( < 50mm IS > -100mm); De seca forte (< -100mm
IS > -200mm); De seca muito forte (IS < -200mm).
Fig. 1.Distribuição anual da temperatura do ar - média,
máxima e mínima (ºC), precipitação pluviométrica (m) e insolação (h) de regiões
vitivinícolas produtoras de uvas para vinhos finos no estado do Rio Grande do
Sul: Serra Gaúcha, Serra do Sudeste e Campanha. (Elaboração: Jorge Tonietto e
Francisco Mandelli)
Fig. 2. Distribuição anual da temperatura do ar - média,
máxima e mínima (ºC), precipitação pluviométrica (m) e insolação (h) de regiões
vitivinícolas produtoras de uvas para vinhos finos no estado de Santa Catarina:
Alto Vale do Rio do Peixe e São Joaquim. (Elaboração: Jorge Tonietto e
Francisco Mandelli)
Preparo do Solo, Calagem e Adubação Escolha da área
A videira se adapta em ampla variedades de solos, dá-se
preferência a solos com textura franca e bem drenados, com pH variando de 5,0 a
6,0 e com teor de matéria orgânica com pelo menos 20 g dm-3.
Topografia
A topografia influencia na drenagem das águas e na
temperatura ambiente. Solos planos e argilosos tendem a ter menor capacidade de
drenagem das águas, enquanto que os solos declivosos tendem a não apresentar
problemas com encharcamento. A exposição do vinhedo para o norte permite que as
plantas recebam os raios solares por mais tempo e ainda ficam protegidas dos
ventos frios do sul.
Preparo da área
O preparo da área tem por finalidade assegurar que as mudas
de videira sejam plantadas em condições que possam expressar todo o seu potencial
produtivo. Ele consta das operações de roçagem, destocamento, lavração,
gradagem, abertura das covas ou sulcamento.
Roçagem - Consiste na eliminação da vegetação existente.
Esta prática pode ser executada manualmente ou com tratores. Em ambos os casos,
não se aconselha a queima da vegetação, apenas retiram-se os arbustos e galhos
maiores, sendo o restante incorporado ao solo através de uma ou mais lavrações.
Destocamento - Caso a área seja coberta por mata ou outra
vegetação maior, com sistema radicular mais desenvolvido, aconselha-se executar
o destocamento após a roçagem da vegetação. Esta prática tem por objetivo a
retirada dos tocos maiores para facilitar os demais trabalhos. Ela é feita com
implementos mais pesados tracionados por tratores e eventualmente por animais.
Lavração - Esta prática visa a mobilização total do solo. A
profundidade em que esta mobilização é feita depende do tipo de solo e dos
trabalhos nele executados anteriormente. É mais comum fazer a lavração à
profundidade de 20 a 25 cm.
Gradagem - Esta prática visa nivelar o terreno que foi
revolvido. Este nivelamento permite a distribuição mais uniforme dos adubos e
facilita a demarcação das covas para o plantio.
Preparo das covas ou sulcamento - As covas são preparadas
após o nivelamento do solo, tendo as dimensões de 50 x 50 x 50 cm. Quando a
topografia permite, no lugar das covas, faz-se a abertura de sulcos com
profundidade de 20 a 25 cm.
Calagem
Tem como finalidade eliminar prováveis efeitos tóxicos dos
elementos que podem ser prejudicial às plantas, tais como alumínio e manganês,
e corrigir os teores de cálcio e magnésio do solo. Para a videira o pH do solo
deve estar próximo de 6,0. No RS e SC utiliza-se o índice SMP como indicador da
necessidade de calagem.
Na tabela 1 se observa a quantidade de calcário a ser
adicionada em função do índice SMP. Na implantação do vinhedo, para os solos da
região da Serra Gaúcha, recomenda- se aplicar, no máximo, 3,5 t ha-1, sendo o
restante parcelado anualmente. Deve-se dar preferências para o uso do calcário
dolomítico (com magnésio), sendo que o mesmo deve ser aplicado ao solo, pelo
menos, 3 meses antes do plantio, distribuindo-se em toda área. Só aplique calcário
quando a análise de solo indicar necessidade e/ou os teores de cálcio e
magnésio forem menores que 4,0 e 2,0 cmolc, respectivamente. Normalmente após
três a quatro anos após a implantação do vinhedo há necessidade de fazer uma
nova calagem. O modo de aplicação do calcário é bastante controverso, pois em
regiões de ocorrência de fusariose, o corte do sistema radicular pode aumentar
a mortalidade de plantas infectadas por fusarium, e, em vinhedos sob
Litossolos, há afloramento de rochas. Nas duas situações é proibitivo a prática
da incorporação do calcário, sendo então necessário a aplicação do calcário na
superfície sem a necessidade de incorporação.
Adubação
Exigências nutricionais e sintomas de deficiência
Fósforo - Solos brasileiros são deficientes em fósforo, com
teores médios em torno de 1,0 mg kg-1 (Mehlich 1), que torna necessário
utilização de adubos químicos para suprir a deficiência. Os sintomas de
deficiência de fósforo ocorrem em folhas maduras, onde é observado redução do
tamanho, tornam-se amareladas e ainda podem apresentar limbo com manchas
avermelhadas. A concentração normal de fósforo nas folhas da videira varia de
0,15 a 0,25
%, sendo que a planta absorve cerca de 1,4 kg de P2O5 para
produzir 1000 kg de frutos. Apesar dos solos brasileiros serem naturalmente
deficientes em fósforo, não se tem observado sintomas de deficiência em
plantas. Potássio - Na grande maioria dos solos brasileiros o concentração de K
é considerada baixa, no entanto, os solos da região da Serra Gaúcha apresentam
teores de médio a elevado.
Por ser um elemento bastante móvel no interior das plantas,
os sintomas de deficiência de potássio ocorrem em folhas mais velhas. Nas
variedades brancas os sintomas iniciais se caracterizam por amarelecimento nas
proximidades das bordas foliares, com o agravamento da deficiência as bordas
ficam necrosadas.
Nas variedades tintas, as folhas tornam-se avermelhadas e
também mostram o necrosamento das bordas. A concentração normal de potássio nas
folhas da videira varia de 1,50 a 2,50
%, sendo que a planta absorve cerca de 6 kg de K2O para
produzir 1000 kg de frutos. Apesar dos solos brasileiros serem naturalmente
deficientes em potássio, como no fósforo, também não é comum sintomas de
deficiência em plantas. O uso indiscriminado de fertilizantes potássicos
aumenta a concentração desse elemento no mosto, isso pode acarretar problemas
enológicos.
Nitrogênio - O teor de matéria orgânica é o indicador de
disponibilidade de N no solo mais utilizado, mas este não tem sido muito eficaz
na predição do comportamento das plantas, o que tem causado sérios problemas na
viticultura, pois tanto o excesso quanto a deficiência de nitrogênio afeta a
produtividade e a qualidade dos frutos.
Os sintomas de deficiência de nitrogênio se caracterizam
pela redução no vigor das plantas e pela clorose (amarelecimento) no limbo das
folhas maduras e velhas. Em algumas variedades tintas as folhas e,
principalmente, os pecíolos podem apresentar coloração avermelhada. A
concentração normal de N nas folhas da videira varia de 1,60 a 2,40 %, sendo
que a planta absorve cerca de 2 kg de N para produzir 1000 kg de frutos. Apesar
dos solos brasileiros serem naturalmente deficientes em nitrogênio,
freqüentemente observa-se tanto a falta quanto o excesso de N nos parreirais.
Isto indica que os produtores ainda não têm consenso no uso de nitrogênio,
principalmente porque há uma relação inversa entre excesso de vigor das plantas
e produtividade e/ou qualidade dos frutos, o que leva os produtores a temer uma
aplicação excessiva de fertilizantes nitrogenados.
Cálcio - O cálcio é um elemento pouco móvel na planta, por
isso os sintomas de deficiência aparecem nas folhas jovens. Essas folhas
normalmente são menores do que as normais, com a superfície entre as nervuras
cloróticas, com pintas necróticas e tendência a se encurvarem para baixo. Os
teores de cálcio considerados normais para a videira varia de 1,6 a 2,4 % ,
sendo que as plantas retiram cerca de 6 kg de CaO para produzir 1000 kg de
frutos.
Magnésio - Apesar dos teores de Mg2+ da grande maioria dos
solos brasileiros serem baixos, ele não tem sido problema sério para a videira,
pois, como para o cálcio, a utilização de calcário dolomítico para aumentar o
pH do solo também aumenta o teor de Mg.
O magnésio é um elemento móvel na planta, por isso os
sintomas de deficiência aparecem nas folhas maduras. Essas folhas apresentam a
superfície entre as nervuras cloróticas, que com o agravamento da deficiência
vão ficando amareladas, no entanto as nervuras permanecem verdes. Tem-se
observado um distúrbio fisiológico chamado dessecamento da ráquis, sendo sua
ocorrência mais freqüente em anos em que o período de maturação dos frutos é
bastante chuvoso e o solo apresenta-se com alto teor de potássio e baixo de
magnésio. Os teores de magnésio considerados normais para a videira varia de
0,25 a 0,50 % , sendo que as plantas retiram cerca de 1 kg de MgO para produzir
1000 kg de frutos.
Boro - A grande maioria dos solos do Brasil, cultivados com
videira, possuem baixo teor de boro. No RS, freqüentemente tem-se observado
sintomas de deficiência de B, sendo que os problemas normalmente aparecem em
solos cujo teor é menor do que 0,6 mg dm-3.
A mobilidade do boro nas plantas ainda é muito discutida,
principalmente porque os sintomas de deficiência aparecem nas folhas e ramos
novos. A característica principal é a redução no tamanho das folhas e
encurtamento dos estrenós. Os teores de boro considerados normais para a
videira varia de 15 a 2 mg dm-3, sendo que as plantas retiram cerca de 10 g de
B para produzir 1000 kg de frutos.
Formas de Aplicação de Adubos e Corretivos
Existem três tipos fundamentais de adubação: a de correção,
efetuada antes do plantio, a de plantio ou crescimento, realizada na ocasião do
plantio do porta-enxerto ou da muda até 2 a 3 anos, e a de manutenção,
realizada durante a vida produtiva da planta. A primeira é feita para corrigir
a fertilidade do solo para padrões de fertilidade preestabelecido, a segunda é
feita para permitir o crescimento inicial das plantas, a terceira é para repor
os elementos absorvidos pela planta durante o ano.
Adubação de Correção - Como o nome já diz, é feita para
corrigir possíveis carências nutricionais. Nela procura-se corrigir os teores
de fósforo, potássio e do micronutriente boro.
Os indicadores da disponibilidade de K e P para os solos do
RS é o Mehlich 1, enquanto que para boro é a "Água Quente". A
quantidade de nutriente a ser aplicada baseia-se em análise de solo e segue-se
a tabela 2. Os fertilizantes devem ser aplicados 10 dias antes do plantio e
devem ser distribuídos em toda área.
As fontes utilizadas para fósforo são os superfosfatos,
enquanto que para o potássio recomenda-se o uso do cloreto de potássio ou
sulfato de potássio. Em condições de pH menor que 6,0 há possibilidade de
utilização de fosfatos naturais, mas deve-se comparar custo dessa aplicação com
a aplicação de um fosfato mais solúvel. Para o boro recomenda-se a utilização
de bórax, ácido bórico e ulexita.
Adubação de Plantio ou Crescimento - Esta adubação tem
finalidade fornecer nitrogênio às plantas durante os dois a três primeiros anos
após a implantação.
Utiliza-se esterco e/ou fertilizante químico à base de
nitrogênio. A quantidade de nitrogênio a ser aplicada está relacionada com o
teor de matéria orgânica do solo e segue-se a tabela 3. A fonte de N a ser
utilizada deve ser aquela mais fácil de ser encontrada na região. Quando for
utilizado uréia deve-se tomar o cuidado para evitar perdas por volatilização,
assim o solo deve estar úmido e/ou incorporar o fertilizante ao solo.
Em solos com menos de 25 g kg-1 de matéria orgânica
recomenda-se a aplicação de esterco de frango na ocasião do plantio, na dose 15
t ha-1, que deve ser colocado no fundo das covas das plantas e bem misturado
com o solo.
Adubação de manutenção - Tem a finalidade de repor os
nutrientes que são exportados na forma de frutos. A recomendação para
nitrogênio, fósforo e potássio é feita na expectativa da produtividade a ser
alcançada e se utiliza três classes de produtividade que são: < 15, 15 a 25
e > 25 t ha-1, as doses recomendadas se encontram nas tabelas 4, 5 e 6 e as
épocas de aplicações estão na tabela 7. O Boro é o micronutriente que mais
comumente se apresenta em concentrações abaixo do normal nas plantas da
videira, assim, quando necessário, faz-se adubações de correção nas doses
recomendadas pela tabela 8.
Manejo da Cobertura do Solo
Durante os dois primeiros anos de cultivo da videira a área
poder ser cultivada com uma cultura anual nas entrelinhas da videira, esta
cultura intercalar deverá permitir a cobertura do solo enquanto a videira
cresce. A partir do 3° ano do plantio (2° ano após a enxertia) não é mais
recomendável a cultura intercalar. Contudo, a utilização da cobertura verde do
solo do vinhedo, com gramíneas e/ou leguminosas de outonoinverno, pode ser útil
ao solo e à videira. Entre vários benefícios, esta prática auxilia o controle
de ervas daninhas, mantém ou aumenta o teor de matéria orgânica do solo e
diminui o estresse hídrico nas primaveras e verões secos. Para atingir esses
objetivos sugere-se a seguinte sistemática:
março/abril - fazer a análise do solo e realizar as
correções da acidez e fertilidade do solo necessárias para a videira e a
cultura verde de cobertura do solo. Somam-se as quantidades recomendadas dos
fertilizantes para as duas culturas e a incorporação deve ser feita seguindo o
seguinte esquema: calagem (se necessária) - adubação orgânica e/ou química -
semeadura da cultura para a cobertura verde.
Roçada ou dessecamento - a época para fazer a roçada ou
dessecamento da cobertura verde varia de ano para ano. O produtor de deixar as
plantas vegetando durante o maior tempo possível, mas tendo cuidado com a
competição entre as plantas de cobertura e a videira. Na região da Serra Gaúcha
é tecnicamente possível manter o solo do pomar coberto até outubro. A roçada ou
dessecamento é feita com roçadeira ou herbicida sistêmico (glifosato ou
similar).
Para a cobertura verde podem ser usadas várias espécies
como: aveia preta, ervilhaca, azevém, nabo forrageiro, trevo, tremoço, entre
outras. Também, podese fazer uma combinação de uma leguminosa com uma gramínea.
A relva expontânea (natural) pode ser deixada como cobertura verde do solo,
roçando quando atingir a altura de 30 cm, aproximadamente.
Tabela 1. Recomendação da calagem para solos do RS e SC
Índice SMP Calcário a adicionar
(Mg ha-1) Índice SMP Calcário a adicionar (Mg ha-1)
Fonte: SBCS-NRS / Comissão de Fertilidade do Solo RS/SC
Tabela 2. Adubação de correção
P Mehlich (mg kg-1) K trocável B Água Quente
Tabela 3. Adubação nitrogenada de plantio ou crescimento
Matéria orgânica (g kg-1
Dose de nitrogênio (kg ha-1
Tabela 4. Doses de fertilizante fosfatado a ser utilizado na
adubação de manutenção conforme análise de tecido.
Teores de P nas Folhas Completas / Pecíolos
Classe de Interpretação
Dose de P2O5 (Kg/Ha)
Deficiente/ Abaixo do normal 40-80 Normal 0-40 Excesso/
Acima do normal 0
Tabela 5. Doses de fertilizante nitrogenado a ser utilizado
na adubação de manutenção conforme análise de tecido.
Teores de P nas Folhas Completas / Pecíolos Classe de
Interpretação
Produção Esperada (t ha-1)
Dose de N (kg ha-1)
Tabela 6. Doses de fertilizante potássico a ser utilizado na
adubação de manutenção conforme análise de tecido.
Teores de P nas Folhas Completas / Pecíolos Classe de
Interpretação
Produção Esperada (t ha-1)
Dose de N (kg ha-1)
Tabela 7. Época de aplicação de fertilizantes na videira (%
da dose recomendada) destinada a produção de vinho.
Época Dias Nitrogênio Fósforo (P2O5)
Potássio
10 dias antes da poda - - 75 60
10 dias após início da brotação 45 50 25 40
40 dias após início da brotação 75 25 - -
70 dias após início da brotação 105 25 - -
Tabela 8. Adubação de manutenção baseada na concentração de
boro em pecíolos e folhas completas de videira.
Material Faixa de interpretação Quantidade de B a aplicar
(kg ha-1)
Insuficiente 9,7 Abaixo do normal 7,8 Normal 0
Acima do normal 0 Pecíolos
Excessivo 0 Abaixo do normal 9,7
Normal 0 Folhas inteiras Acima do normal 0
Porta-Enxertos e Cultivares Introdução
O cultivo de uvas européias (Vitis vinifera) pressupõe o uso
da enxertia, tendo em vista que a espécie é sensível à filoxera, praga
amplamente difundida no mundo que ataca o sistema radicular da videira. No
Brasil a filoxera foi detectada há mais de um século e o cultivo moderno de
castas européias foi estabelecido com videiras enxertadas, a partir da década
de 1920, no Rio Grande do Sul. Mais de uma dezena de diferentes porta-enxertos
têm sido usados nas zonas de produção, sendo alguns tradicionais, como o
Solferino, e outros de introdução mais recente, como o Paulsen 1103.
Com relação às cultivares, os dados oficiais revelam que são
cultivadas mais de setenta castas de Vitis vinifera na região Sul do Brasil.
Observa-se que, ao longo do tempo, tem havido a substituição. Na Serra Gaúcha o
predomínio das tradicionais castas italianas deixou de existir com a introdução
na década de 1970, de variedades francesas como Merlot e Cabernet Franc. A
partir do início dos anos 80 ganharam espaço a Cabernet Sauvignon, Tannat,
Gewürztraminer, Chardonnay, Flora, Pinotage, juntamente com várias outras
viníferas importadas da França, da Alemanha, da Itália, dos Estados
Unidos e da África do Sul. Realmente um grande número de
cultivares foi testado, nas instituições de pesquisa e nas propriedades da
região da Serra e também da Campanha do Rio Grande do Sul. Mas a busca por
novas alternativas ainda continua, especialmente visando a elaboração de vinhos
varietais. Algumas cultivares portuguesas e de outras procedências têm sido
importadas recentemente, constituindo-se na expectativa do momento. Esta
análise sugere que ainda não há uma definição de cultivares para as condições
temperadas do Brasil. Na verdade, entretanto, enquanto diversas opções testadas
já foram descartadas por falta de adaptação ou porque não tiveram o desempenho
enológico desejado, outras têm se firmado como boas alternativas.
Neste capítulo são descritos os principais porta-enxertos e
cultivares de uvas finas para processamento utilizadas na vitivinicultura
brasileira de clima temperado.
Porta-enxertos
A escolha do porta-enxerto deve ser feita considerando o
destino da produção a fertilidade do solo, os problemas de doenças e pragas
ocorrentes na região ou na área do vinhedo e o vigor da variedade copa. Em
geral, para a produção de uvas viníferas deveriam ser preferidos os
porta-enxertos de menor vigor, para privilegiar a qualidade da matéria-prima.
Os principais porta-enxertos recomendados para o cultivo de viníferas nas
regiões temperadas do Brasil são descritos a seguir:
1103 Paulsen - É um porta-enxerto do grupo berlandieri x
rupestris. Teve grande difusão no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina nos últimos
anos porque apresenta tolerância à fusariose, doença comum nas zonas vitícolas
da Serra Gaúcha e do Vale do Rio do Peixe. É vigoroso, enraíza com facilidade e
apresenta boa pega de enxertia. Tem demonstrado boa afinidade geral com as
diversas cultivares. É o porta-enxerto mais propagado atualmente na região Sul
do Brasil. Solferino - Foi introduzido e difundido no Rio Grande do Sul a
partir da década de 1920 como 3309, um porta-enxerto do grupo V. riparia x V.
rupestris. Mais tarde foi identificado como um V. berlandieri x V.riparia e,
não tendo sido identificada a cultivar, passou a ser denominado Solferino. É
conhecido pelos viticultores pelo nome "Branco Rasteiro" devido ao
aspecto esbranquiçado da brotação e ao seu hábito de crescimento prostrado. Ainda
é muito utilizado na viticultura do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.
Apresenta facilidade de enraizamento, boa pega de enxertia, vigor médio e boa
afinidade geral com as copas, normalmente condicionando a boas produtividades.
SO4 - Este porta-enxerto do grupo berlandieri x riparia foi
introduzido na década de 1970, sendo muito difundido no Rio Grande do Sul nos
anos subseqüentes. Em geral confere desenvolvimento vigoroso e boas
produtividades à maioria das copas. Atualmente é muito pouco propagado devido à
alta sensibilidade à fusariose e a problemas de dessecamento do engaço, uma
anomalia verificada em certos anos, devido a desequilíbrio nutricional
envolvendo o balanço entre potássio, cálcio e magnésio. Estes problemas não têm
sido constatados na região de Santana do Livramento, onde o solo é profundo e
bem drenado. 420-A Mgt - É o menos vigoroso do grupo berlandieri x riparia,
indicado para o cultivo de uvas finas para vinho. Confere vigor moderado à
copa, favorecendo a obtenção de produções limitadas. Não tem sido muito usado
porque apresenta alguma dificuldade de enraizamento e, também, de pega de
enxertia. 101-14 Mgt - É o principal representante do grupo riparia x rupestris
cultivado nos vinhedos sulinos. Já teve maior difusão na Serra Gaúcha, onde foi
substituído pelo 1103 Paulsen nos últimos anos. É um porta-enxerto pouco
vigoroso, que induz vigor e produção moderados, por isso indicado para a
produção de uvas finas para vinho. Tem boa afinidade geral com as copas,
apresenta boa capacidade de enraizamento e boa pega de enxertia.
Alguns outros porta-enxertos têm sido usados nas regiões
temperadas para o cultivo de uvas finas para vinho. Entre eles podem ser
citados Kober 5 B, 161-49 Couderc e Téléki 8 B, entre os berlandieri x riparia;
9 R e 110 R., do grupo berlandieri x rupestris; o 3309 Couderc, do grupo
riparia x rupestris.
Uvas Finas para Processamento
Cabernet Franc
Cultivar francesa da região de Bordeaux, a 'Cabernet Franc'
foi introduzida no Rio
Grande do Sul pela Estação Agronômica de Porto Alegre, por
volta de 1900. Na década de 1920 já era cultivada comercialmente pelos Irmãos
Maristas em Garibaldi. Sua grande difusão no Estado, entretanto, ocorreu nas
décadas de 1970 e 1980, tornando-se a base dos vinhos finos tintos brasileiros
nesse período. A partir daí, foi superada pelas cultivares 'Cabernet Sauvignon'
e 'Merlot' nos novos plantios de uvas tintas finas. 'Cabernet Franc' adapta-se
muito bem às condições da Serra Gaúcha, é medianamente vigorosa e bastante
produtiva, proporcionando colheita de uvas de boa qualidade, atingindo
facilmente 18ºBrix a 20ºBrix, em vinhedos bem conduzidos. Origina vinho com
tipicidade, apropriado para ser consumido ainda jovem. Em anos menos chuvosos
durante o período de maturação o vinho é mais encorpado e tem coloração mais
intensa, apresentando considerável evolução qualitativa com alguns anos de
envelhecimento. Na região do Vale do Loire, na França, é utilizada para a
elaboração de vinhos rosados de alta qualidade.
Cabernet Sauvignon
É uma antiga cultivar da região de Bordeaux, França, hoje
plantada com sucesso em muitos países vitícolas. Em 1913, já era cultivada
experimentalmente pelo Instituto
Agronômico e Veterinário de Porto Alegre. As primeiras
tentativas de sua difusão comercial no Rio Grande do Sul ocorreram nas décadas
de 1930 e 1940. Entretanto, foi a partir do final da década de 1980, com o
incremento da produção de vinhos varietais, que esta cultivar ganhou expressão
no Estado. Vários clones procedentes da França, dos
Estados Unidos, da Itália e da África do Sul foram trazidos
para a formação dos novos parreirais. Atualmente é a vinífera tinta mais
importante do Estado. É uma cultivar muito vigorosa e medianamente produtiva.
Em vinhedos bem conduzidos obtêm-se uvas aptas à elaboração de vinhos típicos,
que podem evoluir em qualidade com alguns anos de envelhecimento. É bastante
susceptível às doenças de lenho que, se não forem controladas convenientemente,
reduzem a produtividade e causam morte precoce das plantas. O vinho de Cabernet
Sauvignon' é mundialmente reputado pelo seu caráter varietal, com intensa
coloração, riqueza em taninos e complexidade de aroma e buquê.
Evolui com o envelhecimento, atingindo sua máxima qualidade
desde dois a três anos até cerca de vinte anos em determinadas safras do Médoc,
por exemplo.
Chardonnay
Cultivar de origem francesa, possivelmente da Borgonha, a
Chardonnay' foi introduzida em São Roque-SP em 1930 e no Rio Grande do Sul em
1948. Não houve difusão comercial desses materiais, que permaneceram nas
dependências das Estações
Experimentais de São Roque e de Bento Gonçalves,
respectivamente. A partir do final da década de 1970, por interesse do setor
vitivinícola, esta casta foi trazida de procedências diversas e difundida na
Serra Gaúcha, tanto pelos órgãos de pesquisa como pela iniciativa privada. É
uma cultivar de brotação precoce, sujeita a prejuízos causados por geadas
tardias. Adapta-se bem às condições da Serra Gaúcha, com vigor e produtividade
médios, atingindo boa graduação de açúcar em anos favoráveis. É uma cultivar
cujo vinho goza de renome internacional, especialmente pela qualidade dos
produtos que origina na Borgonha, assim como, pelos famosos espumantes
elaborados na região de Champagne, em corte com Pinot Noir'. No Brasil tem sido
usada para a elaboração de vinho fino varietal e também para vinhos espumantes.
Flora
'Flora' é uma cultivar de Vitis vinifera, resultante do cruzamento
'Sémillon' x 'Gewurztraminer', selecionada pelo Prof. H. P. Olmo, da
Universidade da Califórnia.
Foi trazida para o Rio Grande do Sul pela Estação
Experimental de Caxias do Sul, em 1965. Destacou-se entre outras viníferas pelo
comportamento produtivo e qualidade da uva obtidos nos experimentos conduzidos
na Serra Gaúcha. Entretanto, os primeiros plantios comerciais desta cultivar no
Estado foram feitos em Santana do Livramento, pela empresa National Distillers,
em meados da década de 1970, onde também apresentou bom desempenho. Ganhou
espaço nos vinhedos da Serra Gaúcha a partir de 1990. 'Flora' é bastante
resistente às podridões do cacho, porém, é sensível à antracnose. Apresenta
elevado potencial glucométrico e acidez equilibrada. Tem sido usada para a
elaboração de vinho branco varietal e também para espumantes, originando
produtos de qualidade, com aroma e buquê característicos.
Gewürztraminer
Referências indicam a 'Gewürztraminer' como uma mutação
somática da 'Traminer
Blanc', uma cultivar provavelmente originária do Tirol
Italiano. Foi levada para a Alemanha no século XVI, onde teria sido denominada
'Traminer Rother' (Traminer
Rosa'). Na Alemanha, na região do Palatinado, duas formas
rosadas foram distinguidas pela seleção: a 'Savagnin Rose', não aromática, e a
'Gewürztraminer', aromática. Foi introduzida no Rio Grande do Sul pela Estação
Experimental de Bento Gonçalves, em 1948, procedente da França. Entretanto, só
foi difundida comercialmente no Estado a partir do final da década de 1970,
sendo cultivada na Serra Gaúcha e em Santana do Livramento. É uma cultivar de
difícil cultivo por causa da alta susceptibilidade ao declínio e morte de
plantas e à podridão cinzenta da uva, causada por Botritys cinerea. Além disso,
é uma cultivar de baixa produtividade. O conjunto destes fatores, após um
período inicial de euforia, determinou a redução da área plantada com esta
cultivar no Rio Grande do Sul. O vinho de 'Gewürztraminer' é reconhecido
internacionalmente pela fineza e intensidade de aroma e sabor. É um dos
principais varietais produzidos na região da Alsácia, na França.
Malvasia Bianca
A 'Malvasia Bianca' foi introduzida no Rio Grande do Sul
pela Estação Experimental de Caxias do Sul, em 1970, procedente da Universidade
da Califórnia. Avaliada pela pesquisa, demonstrou bom desempenho produtivo na
Serra Gaúcha, surgindo como uma alternativa de uva aromática para a região. A
partir de unidades de observação instaladas no campo de testes da Cooperativa
Vinícola Aurora Ltda. e em propriedades de viticultores, começou a ser plantada
comercialmente em meados da década de 1980. Origina vinho acentuadamente
moscatel que pode ser comercializado como varietal, ser usado como fonte de
aroma em cortes com outros vinhos ou servir como base para espumantes. Tem sido
bastante usada para a elaboração de vinho moscatel espumante.
Merlot
Pode ser considerada como uma cultivar originária do Médoc,
França, onde já era cultivada em 1850. Daí expandiu-se para outras regiões da
França e para muitos outros países vitícolas, tornando-se uma cultivar
cosmopolita. Os registros da Estação Experimental de Caxias do Sul informam que
na década de 1920 a 'Merlot' já era cultivada no município por viticultores
pioneiros no plantio de castas finas. Foi uma das cultivares básicas para a Companhia
Vinícola Riograndense firmar o conceito dos seus vinhos finos varietais em
meados do século passado. Tornou-se, a partir da década de 1970, uma das
principais viníferas tintas do Rio Grande do Sul. Nos últimos anos cresceu em
conceito, sendo, juntamente com a 'Cabernet Sauvignon', das viníferas tintas
mais plantadas no mundo. É uma cultivar muito bem adaptada às condições do sul
do Brasil, sendo cultivada também em Santa Catarina. Proporciona colheitas
abundantes de uvas que podem atingir 20°Brix, porém, é bastante susceptível ao
míldio. Origina vinho de alta qualidade, consagrado como varietal e também
muito usado em cortes com vinhos de 'Cabernet Sauvignon', 'Cabernet Franc' e de
outras castas de renome.
Moscato Branco
Apesar do nome 'Moscato Italiano', ainda não há uma
definição da identidade desta cultivar com nenhuma das várias cultivares de
uvas aromáticas descritas na ampelografia italiana. Em 1931, esta cultivar já
fazia parte do campo de matrizes da
Estação Experimental de Caxias do Sul para a distribuição de
material propagativo aos viticultores. É uma cultivar muito bem adaptada às
condições do sul do Brasil, sendo cultivada também em Santa Catarina. É
resistente à antracnose, porém, bastante susceptível ao apodrecimento da uva.
Apresenta alta fertilidade, o que leva, muitas vezes, os agricultores a
exagerarem na carga, prejudicando a qualidade. Nestes casos, a uva não atinge a
maturação, sendo colhida com baixo teor de açúcar e acidez excessivamente
elevada. Além disso, os vinhedos com sobrecarga têm apresentado problemas de
declínio e morte precoce de plantas. Entretanto, em vinhedos bem conduzidos, em
anos favoráveis, proporciona colheitas abundantes, de uvas de ótima qualidade.
Origina vinho acentuadamente moscatel, usado principalmente em cortes, como
fonte de aroma para outros vinhos; também é empregada para a elaboração de
vinho moscatel espumante. Em pequena escala, é comercializada como uva de mesa.
Tem apresentado bom comportamento no nordeste do Brasil, na
região do submédio São Francisco.
Pinotage
Pinotage' é resultante do cruzamento Pinot Noir' x Cinsaut',
realizado na África do
Sul pelo Prof. Peroldt, em 1922. Ela só foi propagada para
testes em áreas comercias em 1952, e em 1959 foi consagrada ganhando o concurso
de vinhos jovens da cidade do
Cabo. O nome Pinotage' é uma combinação dos nomes Pinot' com
Hermitage', sendo esta uma denominação usada para a Cinsaut na África do Sul.
Foi trazida para o Brasil em 1979, pela Maison Forestier, sendo cultivada
experimentalmente nos vinhedos da empresa, em Garibaldi. A partir de 1990
começou a ser plantada comercialmente na Serra Gaúcha. É produtiva, resistente
a podridões do cacho e apresenta ótimo potencial glucométrico, atingindo,
normalmente, 20ºBrix a 22ºBrix, com uma acidez total ao redor de 110 mEq/L.
Origina vinho frutado, apto a ser consumido jovem.
Prosecco
Estudos ampelográficos, realizados a partir de 1979, mostram
que a cultivar encontrada nos vinhedos de Bento Gonçalves, com o nome de
'Biancheta Bonoriva', é, na realidade, a 'Prosecco'. Não há registros sobre sua
difusão, mas, segundo informações dos viticultores, ela é plantada há muitos
anos neste município. Mais recentemente, no final da década de 1970, Ítalo
Zanella, empresário e viticultor de Farroupilha, importou mudas de 'Prosecco'
da Itália para plantio em sua propriedade. Este material serviu de base para
novos plantios na região a partir de 1980. É uma cultivar do norte da Itália,
onde é utilizada para a elaboração de conceituado vinho espumante. Apresenta
bom desempenho agronômico na Serra Gaúcha, porém, em virtude da precocidade de
brotação, pode sofrer danos causados por geadas tardias em áreas susceptíveis.
A exemplo do que ocorre na Itália, também aqui origina espumantes de boa
qualidade.
Riesling Itálico
A 'Riesling Itálico' é uma cultivar do norte da Itália, onde
é cultivada principalmente em Veneza, Pavia, Udine, Treviso e Bolzano. Foi
trazida para o Rio Grande do Sul pela Estação Agronômica de Porto Alegre em
1900. A Companhia Vinícola Riograndense foi pioneira na elaboração de vinho
varietal desta cultivar no Estado e estimulou sua difusão na Serra Gaúcha. A
partir de 1973, houve grande incremento na área cultivada, tornando-se uma das
principais uvas finas brancas da região. É uma cultivar de médio vigor, fértil e
produtiva, muito bem adaptada ao ambiente da Serra Gaúcha. Em anos favoráveis,
proporciona colheitas abundantes, de uvas que chegam a 20°Brix na plena
maturação. Entretanto, em anos mais chuvosos, o viticultor muitas vezes se vê
forçado a antecipar a colheita devido à incidência de podridões do cacho. O
vinho de 'Riesling Itálico' é fino, com aroma sutil e típico, comercializado
como vinho fino de mesa varietal e, também, utilizado na elaboração de
espumantes bem conceituados.
Sémillon
Sauternes, na França, é o berço da 'Sémillon'. É a principal
cultivar branca da região de Bordeaux, onde é utilizada principalmente para a
elaboração de famosos vinhos licorosos naturais, como os das denominações
Sauternes, Barsac e Montbazillac. Foi trazida para a Serra Gaúcha pela Estação
Experimental de Caxias do Sul em 1921, procedente dos vinhedos Vila Cordélia,
de São Paulo. Relatos desta instituição indicavam a 'Sémillon como uma vinífera
promissora para a região ainda na década de 1930, quando já era cultivada pelos
Irmãos Maristas em Garibaldi. A grande difusão desta cultivar na região,
entretanto, ocorreu a partir do início da década de 1970, com grande
participação da Estação Experimental de Caxias do Sul. O volume de uvas
vinificadas de 'Sémillon chegou a superar 7,3 milhões de kg no ano de 1985. Daí
em diante, a produção declinou em conseqüência da política de preços mínimos
que favoreceu outras cultivares. É uma cultivar de vigor médio, produtiva e
muito bem adaptada às condições da Serra Gaúcha. Aqui, origina vinho neutro,
normalmente utilizado em cortes com outros vinhos finos, sendo também usado
como varietal.
Syrah
'Syrah' é uma das mais antigas castas cultivadas. Algumas
referências sugerem que seria originária de Schiraz, na Pérsia, outras, que
seria nativa da Vila de Siracusa, na Sicília. Independentemente de sua origem,
'Syrah' é cultivada na França há muito tempo, principalmente em Côtes-du-Rhône,
Isere e Drôme. Da França, expandiu-se por muitos países, sendo hoje uma das
cultivares tintas mais plantadas no mundo. Chegou ao Rio Grande do Sul em 1921,
procedente dos vinhedos Vila Cordélia, de São Paulo. Até 1970, não logrou
espaço nos vinhedos comerciais do Estado. Desde então, entretanto, acompanhando
a história de outras viníferas finas francesas, começou a ser plantada
comercialmente em Santana do Livramento e na Serra Gaúcha, a partir de mudas
importadas por vinícolas destas regiões. É uma casta muito vigorosa e
produtiva, características que, aliadas a sua alta sensibilidade a podridões do
cacho, a tornam de difícil cultivo nas condições ambientais da Serra Gaúcha.
Todavia, nas condições semi- áridas do nordeste, tem mostrado ótima performance
na região do submédio São Francisco. O vinho de 'Syrah' é característico pelo
seu aroma e buquê. No Rio Grande do Sul é chamada 'Petite Syrah', nome que a
distingue da 'Calitor', aqui conhecida como 'Syrah'; 'Schiraz', nos Estados
Unidos e na Austrália; 'Hermitage', também na Austrália;
'Balsamina', na Argentina.
Tannat
A 'Tannat' é originária da região de Madiran, no sul França,
onde está sua maior área de cultivo. Também é importante no Uruguai, onde é a
principal vinífera tinta cultivada. Foi introduzida no Rio Grande do Sul pela
Estação Experimental de Caxias do Sul, em
1947, procedente da Argentina. Novas introduções foram
feitas por essa mesma instituição em 1971 e 1977, com materiais vindos da
Califórnia e da França, respectivamente. Destacou-se nos experimentos, passando
a ser avaliada em unidades de observação instaladas em propriedades de viticultores
no início da década de 1980.
No mesmo período, foi plantada em Santana do Livramento pela
empresa National Distillers. A partir de 1987 começou a ser difundida
comercialmente na Serra Gaúcha. É uma cultivar de médio vigor e produtiva;
apresenta bom potencial glicométrico e comporta-se bem em relação às doenças
fúngicas. O vinho de 'Tannat' é rico em cor e em extrato, servindo para
corrigir as deficiências destas características em outros vinhos de vinífera.
Também tem sido comercializado como vinho varietal. É um vinho bastante
adstringente e, portanto, necessita de envelhecimento.
Trebbiano
Cultivar italiana da região de Toscana, a 'Trebbiano' tem
grande difusão no mundo vitícola. É bastante cultivada na Itália, onde origina
vinhos brancos secos e participa da composição do Chianti. É extensamente
cultivada na França para a elaboração de vinhos para a destilação em Cognac e
em Armagnac, além de participar da composição de vinhos de várias denominações
de origem. Também está presente nos vinhedos da Bulgária, Grécia, Austrália,
África do Sul, Estados Unidos, México, Argentina e Uruguai. Faz parte da
história do cultivo de viníferas no Rio Grande do Sul, tendo sido uma das
primeiras castas desse grupo a serem cultivadas no Estado. Já na década de 1930
era a vinífera mais propagada na Serra Gaúcha, destacando-se pela sua adaptação
e produtividade. Representou, até 1973, mais de 50% da uva vinífera branca
produzida na região da Serra. Também é cultivada na região da fronteira, em
Santana do
Livramento, e no Vale do Rio do Peixe, em Santa Catarina. No
Rio Grande do Sul, é utilizada para a elaboração de vinho varietal, normalmente
comercializado com os nomes de 'Ugni Blanc' ou 'Saint Émillion', para a
produção de espumantes e para cortes com outros vinhos finos de mesa. Como
sinonímias usuais podem ser citados os nomes
'Trebbiano Toscano', 'Ugni Blanc' e 'Saint Émillion'.
Outras
Além das cultivares referidas, várias outras são cultivadas
em maior ou menor escala nas diferentes regiões temperadas do Brasil. Dentre
elas pode-se citar Barbera, Bonarda, Gamay Noir, Gamay St. Romain, Malvasia
Amarela, Malvasia di Candia, Malvasia
Verde, Peverella, Pinot Noir, Sauvignon Blanc, Sylvaner e
Zinfandel, entre as mais antigas. Em cultivo mais recente são encontradas, entre
outras, Alicante Bouschet,
Ancellota, Aragonês, Carmenère, Castelão, Moscato Giallo,
Tempranillo e Touriga Nacional.
Obtenção e Preparo da Muda
As mudas de videiras européias (Vitis vinifera) podem ser
adquiridas em viveiristas ou preparadas na propriedade pelo processo de
enxertia.
Aquisição da muda pronta
É imprescindível que se adquira as mudas de viveirista
credenciado e regularmente fiscalizado pela Secretaria da Agricultura, onde
deve-se ter a segurança da identidade do porta-enxerto e da cultivar enxertada
e da sanidade das mudas. A obtenção de mudas sem estes cuidados pode
comprometer a viabilidade econômica do empreendimento, pela introdução na
propriedade de focos de doenças e pragas de difícil controle. As mudas
adquiridas devem ser de raiz nua e bem lavadas de forma que se possa observar a
presença de pragas como a "pérola-da-terra" e outros sintomas como
engrossamento, nódulos, escurecimento e necroses causados por patógenos de
solo. As mudas devem ter o sistema radicular bem formado, no mínimo, com três
raízes principais e comprimento acima de 20 cm, com o calo do enxerto formado
em toda circunferência da enxertia, sem fendas ou engrossamento excessivo. Além
disso, deve-se ter a segurança de que as mudas se originaram de material
propagativo certificado ou fiscalizado, sem a presença de viroses e outras
doenças não possíveis de constatar-se no momento da aquisição das mudas.
Formação da muda na propriedade
Mudas de Vitis vinifera (uvas européias), obrigatoriamente
devem ser formadas por enxertia, pois estas cultivares são muito suscetíveis ao
ataque da filoxera, pulgão que ataca o sistema radicular da videira. A
utilização de porta-enxertos, além do controle da filoxera, tem a vantagem de
propiciar maior produtividade e qualidade da uva, maior tolerância a doenças de
solo e melhor adaptação aos diferentes tipos de solo.
Material de propagação
O material de propagação para o preparo das mudas (estaca do
porta-enxerto e gema da produtora) deve ser obtido em órgãos oficiais ou
viveiristas credenciados. Outra opção e, neste caso, somente para material da
produtora, é a obtenção do material em vinhedos comerciais que tenham sido
formados com mudas de procedência conhecida onde deve-se proceder a seleção das
plantas para a retirada do material.
No caso do produtor optar em fazer a seleção das plantas de
cultivares produtoras para a retirada de garfos (gemas) para enxertia, ele deve
escolher vinhedos adultos, com idade mínima de quatro anos, de preferência
acima de 8 anos e que tenha sido formado com material de boa procedência em
relação a sanidade e identidade varietal. Na seleção deve-se marcar as plantas
com bom vigor, produtivas e boa maturação da uva e, sem qualquer tipo de
sintoma que possa ser causado por doenças ou pragas. A observação das plantas
deve ser feita em diversas épocas do ano, visto que os sintomas da maioria das
doenças se expressam melhor em determinados estádios do ciclo vegetativo. As
épocas mais aconselhadas para observar as plantas são: a) na primavera, quando
os ramos alcançam em torno do 50 cm, verificar se as folhas apresentam sintomas
de deformações, amarelamentos e manchas cloróticas de contorno variado e nos
ramos se há anomalias como bifurcações, entrenós curtos, achatamentos e nós
duplos; b) na fase de maturação da uva, antes da colheita, verificar se as
plantas apresentam cachos com falhas ou mal formados, maturação irregular
(presença no mesmo cacho de uvas maduras e verdes), e também, se àquelas
plantas que embora tenham boa produção apresentam maturação atrasada ou incompleta;
c) no fim do ciclo vegetativo, antes da queda das folhas, observar se as folhas
apresentam enrolamento com aspecto rugoso e coreáceo, avermelhamento nas
cultivares de uva preta ou rosa e amarelamento pálido nas cultivares de uva
branca; d) no período de dormência, época que a planta está sem as folhas,
antes da poda, verificar nos ramos se há presença de achatamento, nós duplos
(gemas opostas), bifurcações, entrenós curtos, engrossamento nos entrenós,
amadurecimento irregular da casca e morte de ramos.
No caso de porta-enxertos é difícil selecionar plantas
sadias na propriedade, pois mesmo infectadas, as plantas não mostram sintomas
de muitas doenças importantes. Dessa forma recomenda-se obter as estacas ou
matrizes de porta-enxerto de fonte segura que tenham material certificado ou
fiscalizado. Não utilizar para propagação, estacas retiradas de rebrotes do
porta-enxerto que, eventualmente, ocorrem de plantas enxertadas em vinhedos
comerciais em plena produção.
Coleta e conservação do material propagativo
A coleta do material propagativo do porta-enxerto (estacas)
e da produtora (gemas), deve ser feita no inverno, quando a planta está em
dormência (sem folhas) e com os ramos bem lignificados (amadurecidos). Somente
devem ser aproveitados os ramos que vegetaram na última estação (ramo do ano) e
que nasceram de ramos do ano anterior, ou seja, ramos de dois anos.
Recomenda-se que a coleta do material seja feita o mais próximo possível da
época da sua utilização (plantio ou da enxertia).
Quando for necessária a conservação do material, antes do
plantio ou da enxertia, deve ser feito, de preferência, em câmara fria. Caso a
câmara fria não dispor de controle de umidade, os feixes devem ser cobertos com
papel jornal úmido e envolvidos em plástico bem vedado, para evitar que o
material propagativo se desidrate. Não dispondo de câmara fria, conservar em
local fresco (porão) sob areia ou serragem úmida. Quando for estacas (40-45 cm)
a conservação pode ser feita em feixes, em pé, com a base das estacas enterrada
(10-20 cm) em areia com bastante umidade e em local bem sombreado e fresco,
onde pode permanecer por até duas ou três semanas. Estes cuidados são
importantes, pois se os ramos da videira perderem água equivalente a 20% do seu
peso, podem se tornar inviáveis para o plantio ou enxertia. O ideal é que todo
o material, antes de ser conservado (armazenado), seja hidratado por 24 horas
(imersão ou com a base na água). Quando as estacas de porta-enxertos destinadas
ao plantio forem retiradas da câmara fria ou de outro local de conservação,
devem serem colocadas na água por dois ou três dias, antes do plantio. No caso
de material de produtoras destinado a fornecer gemas para enxertia é suficiente
uma hidratação de 24 horas antes da enxertia.
Preparo das estacas
As estacas para plantio do porta-enxerto, devem ter o
comprimento, em torno, de 45 cm, correspondendo, aproximadamente a 4-6 gemas e
com um diâmetro de 7-12 m. O corte na extremidade inferior da estaca (base)
deve ser horizontal, logo abaixo de uma gema (0,5 cm). Na extremidade superior,
o corte deve ser inclinado (bisel) de 3 a 5 cm acima da gema.
Formação da muda
Mudas de cultivares viníferas devem ser obtidas através do
processo de enxertia, preparadas diretamente no local de implantação do vinhedo
ou em viveiro para posterior transplante. O preparo da muda em viveiro
possibilita, numa pequena área, fazer grande número de mudas, além de facilitar
os tratamentos fitossanitários, adubação, irrigação, cobertura plástica do solo
etc. Além disso as mudas podem ser selecionadas antes de ir para o local
definitivo, facilitando a padronização das plantas no vinhedo. Em
contrapartida, a muda feita no local definitivo tem como vantagem o maior
desenvolvimento inicial da planta, especialmente, nos primeiros dois anos,
visto que, a muda não sofre o traumatismo do processo de transplante.
Escolha da área e preparo do solo para viveiro
O viveiro deve estar distanciado pelo menos 50 m de vinhedos
comerciais. Escolher um solo com predominância para o tipo arenoso, profundo e
bem drenado, de preferência que não tenha sido cultivado com videiras nos
últimos anos. Deve estar livre de fungos, bactérias e nematoides que afetam a
videira e sobrevivem no solo e, principalmente, da praga "pérola da
terra", que ataca as raízes da videira e de inúmeras outras plantas
cultivadas. Retirar amostras para analise do solo, com bastante antecedência e
fazer a correção do pH e de adubação, conforme a recomendação. O solo tem que
ficar bem preparado (solto), de modo a facilitar o aprofundamento das raízes e
o desenvolvimento da muda.
Plantio das estacas
O plantio das estacas deve ser feito no período de
julho/agosto. Quando a muda é preparada em viveiro o plantio das estacas do
porta-enxerto pode ser feito em valas com profundidade de 30 cm a 40 cm e
largura de 30cm. As estacas são enterradas à profundidade de 2/3 do seu
comprimento e espaçadas de 5 cm a 10cm. Pode-se colocar na vala duas fileiras
de estacas distanciadas 20 cm a 30 cm uma da outra e, entre as valas, deixar
uma distância de 1 m. Outra alternativa é preparar canteiros com 15-20 cm de
altura e com 60 cm de largura e distante 50 cm um do outro, cobrindo-os com
plástico preto. O plantio deve ser feito em duas fileiras para facilitar a
operação de enxertia pelos dois lados do canteiro. O plantio pode ser feito
furando o plástico com a própria estaca ou, o que é mais aconselhável, perfurar
o plástico antes de colocar a estaca. Deve-se ter o cuidado de manter o solo
com umidade suficiente para o plantio antes de cobrir o canteiro com plástico.
Após o plantio das estacas é importante irrigar em cima do plástico fazendo a
água penetrar pelos furos de modo a compactar o solo junto a estaca. Em caso de
estiagem o viveiro deve ser irrigado periodicamente.
Quando a muda é preparada no local definitivo, o plantio
também é feito no período de julho/agosto. Normalmente o porta-enxerto é
plantado em covas, sempre colocando- se duas estacas em cada cova e enterrando
2/3 do seu comprimento. Outra alternativa é plantar estaca já enraizada
(barbado) e, neste caso, vai um barbado por cova. No caso do plantio de estacas
e as duas enraizaram, elimina-se a mais fraca ou transplanta-se para as covas
onde não ocorreu pegamento. Uma boa medida para repor as falhas, é plantar uma
quantidade de estacas em sacos plásticos e transplantá-las para as covas que
não houve pegamento, ainda no mesmo ano, durante o mês de outubro.
Enxertia de garfagem no campo
No Brasil, esta é a prática mais utilizada e a quase
totalidade das mudas são preparadas no local definitivo. Como já foi
mencionado, a enxertia é feita um ano após o plantio das estacas do
porta-enxerto (enxertia de inverno). Em regiões sujeitas à ocorrência de geadas
tardias, a enxertia deve ser feita na última quinzena de agosto. O tipo de
enxertia feita no campo é a garfagem simples, executada do seguinte modo:
inicialmente, faz-se uma limpeza em torno do porta-enxerto para facilitar a
operação de enxertia. A seguir elimina-se a copa a uma altura de 10 cm a 15 cm
acima do solo, ficando, assim, um pequeno caule ou cepa. Após, com o canivete
de enxertia, é feita uma fenda de 2 cm a 4 cm, na qual será introduzido o garfo
da videira que se deseja enxertar. Para o preparo do garfo (enxerto), toma-se
uma parte do ramo (bacelo) com duas gemas, de preferência com diâmetro igual ao
do porta-enxerto. Com canivete bem afiado são realizados cortes rápidos e
firmes em ambos os lados, de maneira que o garfo fique em forma de cunha, com
largura maior para o lado que fica a gema basal (Figura 1). O comprimento da
cunha deverá ser semelhante ao da profundidade da fenda feita no porta-enxerto.
Fig. 1. Preparo do garfo, com a largura maior para o lado da
gema. (Foto: G. Kuhn)
É importante que o garfo, assim preparado, seja
imediatamente encaixado na fenda do porta-enxerto, de tal maneira que as
regiões da casca do porta-enxerto e do garfo (enxerto) fiquem em contato
direto. Quando o diâmetro do porta-enxerto e do garfo for diferente, é
fundamental que, no lado em que se situa a gema basal do garfo, ocorra o
contato direto da casca das duas partes - enxerto/porta-enxerto (Figura 2). A
seguir, enrola-se firmemente toda a região da enxertia com fita plástica, com
cuidado para não deslocar o enxerto. Além da fita plástica pode ser usado ráfia
ou vime, embora a fita plástica seja mais indicada por vedar bem os cortes da
enxertia, evitando a entrada de água e terra (Figura 3). Quando a muda é
preparada no local definitivo, crava-se uma estaca ou taquara (tutor) junto ao
enxerto, de modo a conduzi-lo até o arame do sistema de sustentação (latada,
espaldeira, etc.).
Fig. 2. União da enxertia, mostrando o contato da casta da
copa com o porta-enxerto. (Foto: G. Barros )
Fig. 3. Amarrio do enxerto com fita plástica. (Foto: G.
Barros)
Para favorecer a soldadura, logo após a enxertia, deve-se
cobrir totalmente o enxerto com terra solta, areia ou serragem úmida, não em
excesso, para não causar a compactação quando secar (Figura 4).
Fig. 4. Cobertura do enxerto com terra. (Foto: G. Kuhn)
Após a pega da enxertia, deve-se acompanhar o
desenvolvimento da muda mantendo os brotos do enxerto e eliminando-se os brotos
que se originam do porta-enxerto, tomando-se o cuidado para não deixar a região
do calo do enxerto sem a proteção da terra.
Quando o enxerto estiver com uma brotação de,
aproximadamente, 50 cm, deve ser observado se houve afrancamento, ou seja, se
ocorreu emissão de raízes a partir do garfo (enxerto). Em caso positivo, as
raízes devem ser cortadas com tesoura ou canivete. Nesta época, também deve ser
observado se está havendo estrangulamento na região da enxertia, cortando a
fita plástica se necessário. Realizadas estas operações, novamente, protege-se
a região da enxertia até que se inicie o amadurecimento do ramo. A partir deste
estádio pode-se eliminar a proteção do enxerto e soltar a fita plástica.
Deve-se fazer o controle da formiga cortadeira e realizar os
tratamentos fitossanitários, especialmente, do início da brotação em setembro
até dezembro, quando doenças como antracnose e míldio ocorrem com maior
freqüência. As operações de manejo do enxerto, tais como eliminação da brotação
do porta-enxerto, desafrancamento e eliminação da proteção que cobre o enxerto,
devem ser efetuadas, preferencialmente, em dias nublados. Ocorrendo a brotação
das duas gemas do enxerto e quando estas alcançarem em torno de 1 m, elimina-se
o broto mais fraco, amarrando o outro, freqüentemente, junto ao tutor, para
evitar a sua quebra pelo vento.
Quando a enxertia é feita em viveiro, onde a distância entre
as mudas é em torno de 10 cm, não há necessidade de tutora-las e sim fazer o
desponte dos ramos, sempre que atingirem em torno de 60 cm, de modo a engrossar
o ramo principal e facilitar os tratamentos fitossanitários. As demais
operações são as mesmas já mencionadas quando se forma a muda no local
definitivo. As mudas permanecem no viveiro até o inverno seguinte, quando serão
arrancadas e replantadas no local onde vai ser implantado o vinhedo.
Enxertia verde
Esta modalidade de enxertia é efetuada durante o período
vegetativo da videira sendo recomendada para a reposição de falhas da enxertia
de inverno. Pode também ser empregada na renovação do vinhedo. A enxertia é
feita por garfagem simples, nos meses de novembro e dezembro. Se feita mais
tarde poderá ocorrer problema na maturação (lignificação) das brotações, principalmente,
em localidades onde o outono é bastante frio.
Consiste dos seguintes procedimentos: selecionar dois brotos
do porta-enxerto conduzindo-os junto ao tutor e eliminando as demais brotações.
Quando os ramos do porta-enxerto atingirem em torno de 5 m de diâmetro e
estiverem com boa consistência, verdes mas rígido, já poderão ser enxertados. A
altura da enxertia é variável, dependendo do desenvolvimento do ramo, o qual
deverá ser despontado a partir do quarto ou quinto entrenó, contados da
extremidade para a base (Figura 5).
Fig. 5. Enxertia verde - desponte do porta-enxerto. (Foto:
G. Kuhn)
Todas as gemas do porta-enxerto devem ser eliminadas,
deixando as folhas. O garfo da produtora com uma ou duas gemas (Figura 6) deve
ter o mesmo diâmetro do ramo do porta-enxerto para facilitar a enxertia e a
soldadura do enxerto.
Fig. 6. Enxertia verde - diâmetro do garfo e do
porta-enxerto devem ser semelhantes. (Foto: G. Barros)
A elaboração dos cortes é igual ao da enxertia de inverno já
descrita. O enxerto deve ser amarrado com plástico fino (Figura 7) vedando
totalmente a superfície, desde a região da enxertia até o ápice, ficando a
descoberto apenas a(s) gema(s) do garfo (Figura 8). Após a enxertia, deve ser
feito duas vistorias semanais eliminando-se os brotos que se originam do
porta-enxerto. A brotação do enxerto deve ser amarrada freqüentemente para não
quebrar com o vento. Também devem ser realizados os tratamentos
fitossanitários, especialmente para o controle da antracnose e do míldio.
Cerca de dois meses após a enxertia, afrouxar o amarrio para
evitar o estrangulamento, permanecendo o enxerto coberto com plástico. A
retirada definitiva do plástico deve ocorrer, em torno, de somente 90 dias após
a enxertia. Efetuar estas práticas, de preferência, em dias nublados ou em fim
de tarde.
Fig. 7. Enxertia verde - amarrio com fita plástica fina.
(Foto: G. Barros)
Fig. 8. Enxertia verde - cobertura de toda região enxertada,
deixando gema de fora. (Foto: G. Barros)
Sistema de Condução
A videira, a não ser em casos especiais, não pode ser
cultivada satisfatoriamente sem alguma forma de suporte. É uma planta que
apresenta uma grande diversidade de arquitetura de seu dossel vegetativo e das
partes perenes. A distribuição espacial desse dossel, do tronco e dos braços,
juntamente com o sistema de sustentação, constituem o sistema de condução da
videira.
Escolha do Sistema de Condução
Há vários fatores que influenciam a tomada de decisão para a
escolha de um sistema de condução: a) o objetivo da produção (qualidade x
quantidade); b) a variedade, especialmente no que se relaciona ao hábito de
frutificação, que pode exigir poda em cordão esporonado ou mista, neste caso
deixando varas e esporões; tamanho do cacho; vigor da planta, que pode requerer
altura e/ou largura maiores para uma melhor exposição ao sol; c) as condições
do solo e do clima; d) a topografia do terreno; e) o método de colheita, manual
ou mecânico; f) o custo de instalação e de manutenção dos postes e fios; g) a
conjuntura econômica/rentabilidade do viticultor; h) a tradição.
Há uma diversidade muito grande de sistemas de condução da
videira utilizados nas diferentes regiões vitícolas do mundo. Para o Sistema de
Produção de Uvas Viníferas para Processamento em Regiões de Clima Temperado,
são abordados os sistemas de condução latada e espaldeira.
Latada
O sistema de condução latada é também chamado de pérgola. É
o sistema mais utilizado na Serra Gaúcha, RS e no Vale do Rio do Peixe, SC. Na
América do Sul tem alguma expressão na Argentina, Chile e Uruguai. Na Europa,
aparece em determinadas regiões vitícolas, especialmente na Itália, com
denominações e formas diferenciadas.
O dossel é horizontal e a poda é mista ou em cordão
esporonado, conforme a variedade de videira. As varas são atadas
horizontalmente aos fios do sistema de sustentação do vinhedo. As videiras são
alinhadas em fileiras distanciadas geralmente de 2,0 a 3,0 m, sendo 2,50 m o
mais usual. A distância entre plantas é de 1,50 a 2,0 m, conforme a variedade e
o vigor da videira. A zona de produção da uva situa-se a aproximadamente 1,80 m
do solo. A carga de gemas também é variável, sendo em geral de 100 mil a 140
mil gemas/ha.
Principais Vantagens
Proporciona o desenvolvimento de videiras vigorosas, que
podem armazenar boas quantidades de material deRESERVA , como o amido;
Permite uma área do dossel extensa, com grande carga de
gemas. Isto proporciona elevado número de cachos e alta produtividade;
Em função de sua produtividade, possui uma boa rentabilidade
econômica especialmente em pequenas propriedades;
É de fácil adaptação à topografia de regiões montanhosas,
como a Serra Gaúcha e o Vale do Rio do Peixe;
Facilita a locomoção dos viticultores, que pode ser feita em
todas as direções.
Principais Desvantagens
Os custos de implantação e de manutenção do sistema de
sustentação são elevados;
A posição do dossel e dos frutos situados horizontalmente acima
do trabalhador causa transtornos à execução das práticas culturais;
A posição horizontal do dossel e o vigor excessivo das
videiras podem causar sombreamento, afetar negativamente o microclima, a
fertilidade das gemas e a qualidade da uva e do vinho;
O elevado índice de área foliar, se o dossel não for bem
manejado, pode proporcionar maior umidade na região dos cachos e das folhas, o
que favorece o aparecimento de doenças fúngicas;
O sistema de sustentação necessita ser sólido para suportar
o peso do dossel e da produção e o impacto do vento; A área máxima recomendada
de cada parcela de um vinhedo conduzido em latada é de 4 ha.
Manejo do Dossel Vegetativo
O manejo do dossel de um vinhedo conduzido em latada pode se
tornar relativamente dispendioso se o número de varas e de esporões não for
condizente com as características da cultivar, o vigor das plantas e a
densidade de plantio. Nesse caso, há necessidade de realizar a poda verde,
especialmente a desbrota, a desfolha e a desponta, a fim de que haja uma melhor
distribuição espacial das folhas e uma maior captação da radiação solar.
Instalação do Sistema
O sistema de sustentação deve ser suficientemente
resistente, durável e ter custos acessíveis de instalação e de manutenção ao
empreendimento. O sistema de sustentação deve suportar o peso da uva, dos
braços, dos ramos e folhas. Além disso, deve-se considerar o impacto de
acidentes durante as operações no vinhedo e os efeitos de ventos e de chuvas
muito intensas. Ele é formado por postes e fios que podem ter especificações
variadas.
Postes
Os postes devem ter algumas características especiais para
serem utilizados nos sistemas de sustentação. Eles devem ser a) resistentes,
para suportar o peso do dossel vegetativo e da produção de uva; b) duráveis, de
preferência durante todo o tempo de vida da planta; e c) enterrados a uma
profundidade adequada para que não caiam sob o efeito de chuvas e de ventos
intensos. Eles podem ser de madeira, metálicos, de pedra ou de concreto. Os de
madeira são os mais usados, mas devem ter resistência aos fungos e insetos que
atacam a madeira. Em geral utiliza-se o eucalipto, que tem fraca resistência
natural mas pode tornar-se excelente quando tratado. Para isso, deve-se a)
utilizar postes redondos; b) secá-los de 3 a 6 meses antes do tratamento; c)
tirar a casca e fazer uma ponta em uma das extremidades; d) tratá-los com
produto recomendado para sua conservação e que substitui a seiva, inicialmente
fazendo-se vácuo e após, pressão. Os produtos usados são sais metálicos à base
de cobre, de cromo e de arsênio (CCA), o que exige cuidado com seu manuseio. O
creosoto é um outro produto que também apresenta uma eficácia muito boa. De
qualquer forma, é importante que o viticultor tenha certeza que o tratamento
foi bem realizado, a fim de evitar sérios transtornos operacionais e econômicos
mais tarde. Isso pode ser feito cortando-se o poste a uns 20 cm da extremidade
e verificar se no corte transversal há coloração cinza-esverdeada em toda sua
extensão. Atualmente, pode-se adquirir postes tratados de empresas
especializadas nesse trabalho, mas elas têm de ser idôneas.
Os postes de pedra e de concreto são muito resistentes,
especialmente os de pedra.
Mas são pesados e difíceis de serem manipulados, são
quebradiços e apresentam certa dificuldade para a instalação dos fios. Os
postes metálicos são muito utilizados nos principais países vitivinícolas. Eles
são facilmente colocados nos solos não pedregosos e permitem uma fixação rápida
dos fios de sustentação da vegetação. São flexíveis, mas precisam ser
firmemente inseridos no solo para evitar que se inclinem com a ação de ventos
fortes. Sua longevidade depende do material de que são feitos e do material de
revestimento. Em geral são galvanizados, o que aumenta sua longevidade e
permite uma boa relação preço/longevidade. No sistema de condução latada, há os
seguintes tipos de postes: cantoneiras, cabeceiras, laterais, internos e
rabichos. As cantoneiras são postes reforçados, colocados nas quatro
extremidades do vinhedo. Em geral, devem medir 3,0 m de comprimento e ter um
diâmetro de 16 a 18 cm (Figura 1). Além dos postes, há os tutores.
Fig. 1. Sistema de condução da videira em latada,
especificando postes e fios. Postes - a) cantoneira; b) lateral; c) interno; d)
rabicho; Fios - e) cordão primário de cabeceira; f) cordão primário lateral; g)
fio da produção; h) fio da vegetação; i) fio de sustentação da malha; j) fio
rabicho. (Ilustração: A. Miele)
As cabeceiras são postes externos que limitam o início e o
fim das fileiras. Os laterais, são igualmente postes externos mas colocados nas
laterais do vinhedo. Ambos devem ser reforçados. Em princípio, são feitos com
os mesmos materiais das cantoneiras e devem medir cerca de 2,50 m de
comprimento e ter de 12 a 14 cm de diâmetro. O espaçamento entre as cabeceiras
é determinado pela distância entre as fileiras e o dos laterais deve ser de 5,0
m no máximo. As cantoneiras, as cabeceiras e os laterais podem se colocados
verticalmente ou oblíquos para fora do vinhedo, dependendo das condições de
solo e do tipo de rabicho a ser utilizado.
Os postes internos devem medir 2,20 m de comprimento e ter
um diâmetro de 7 a 10 cm. Eles são colocados no cruzamento dos fios da produção
e os de sustentação da malha. Deve-se fazer uma canaleta na extremidade
superior para apoiar o fio de sustentação da malha.
Os rabichos devem ser colocados oblíquos e externamente a
1,50 m das cantoneiras, das cabeceiras e dos laterais. Medem 1,20 m de
comprimento e são feitos de pedra, concreto ou ferro, atados a esses postes com
um cordão de três fios, o que permite manter o aramado esticado.
O material necessário para a formação de um vinhedo na forma
de quadrado e conduzido em latada varia conforme as características do desenho
idealizado. A seguir, enumeram-se os postes necessários para a formação de um
hectare de vinhedo com as seguintes especificações: a) distância entre fileiras
- 2,50 m; b) distância entre plantas -
1,50 m; c) distância entre os laterais -5,0 m; d) distância
entre os postes internos - 5,0 m; e) um fio da produção e quatro fios da
vegetação por fileira (Tabela 1).
Tabela 1. Especificações e número de postes para formar um
hectare de vinhedo na forma de quadrado e conduzido em latada.
Tipo de poste Comprimento (m)
Diâmetro (cm) Número de peças
Fórmula para determinar o número de cabeceiras e de laterais
necessários:
[(comprimento da latada ÷ espaçamento dos postes laterais)
-1] x 2 + [(largura da latada ÷ espaçamento dos postes cabeceira) -1] x 2
Fórmula para determinar o número de postes internos:
[(comprimento da latada ÷ espaçamento dos postes laterais)
-1] x [(largura da latada ÷ espaçamento dos postes cabeceira) -1]
Arames
Os cordões, fios e acessórios utilizados na formação de
vinhedos devem ser especiais para a finalidade desejada. São produtos com
galvanização pesada, o que implica numa maior vida útil do aramado devido à
maior proteção contra a ferrugem e à maior resistência mecânica. Além disso,
apresentam menor coeficiente de alongamento, isto é, aumentam pouco seu
comprimento quando a temperatura se eleva ou são tracionados pelo peso dos
frutos e da vegetação.
O aramado é formado por cordões de cabeceira e cordões
laterais e por fios da produção, da folhagem e dos rabichos (das cantoneiras,
das cabeceiras e dos laterais).
Os cordões de cabeceira são dois, interligando as
cantoneiras de duas extremidades do vinhedo e os postes de cabeceira situados
entre eles. Os cordões laterais também são dois, colocados perpendicularmente
aos cordões de cabeceira e interligando as cantoneiras de duas cabeceiras do
vinhedo e unindo os postes laterais. Ambos geralmente são formados por sete
fios enrolados helicoidalmente e revestidos por uma camada de alumínio pesada.
Os fios de sustentação da malha são colocados
perpendicularmente às fileiras das plantas e paralelamente aos cordões de
cabeceira. Eles unem os postes laterais de ambos os lados do vinhedo, passando
pelos postes internos. São formados por três fios, com um diâmetro total de 4,0
m.
Os fios da produção unem os postes das duas cabeceiras do
vinhedo e têm a finalidade de sustentar a cabeça da videira, quando ela é
podada em poda mista, ou os cordões, quando a poda é em cordão esporonado.
Utilizam-se fios ovalados 15 x 17
(2,40 m x 3,0 m). Os fios da vegetação unem os dois cordões
de cabeceira e são paralelos aos fios da produção. Utilizam-se fios de 2,10 m
de diâmetro. Tanto os fios da produção como os fios da vegetação passam por
cima dos fios de sustentação. Geralmente colocam-se quatro fios da vegetação
para cada fio da produção, dois de cada lado e distanciados cerca de 50 cm um
do outro, dependendo da distância entre as fileiras.
Os postes de cabeceira e laterais são amarrados aos rabichos
correspondentes através de fios. Para as cantoneiras, utilizam-se dois cordões
com três fios cada e para as cabeceiras e os laterais, um cordão com três fios.
O cordão deve ter cerca de 4,0 m de diâmetro.
As características dos diferentes tipos de fios que podem
ser utilizados no sistema de sustentação de um vinhedo conduzido em latada são
descritas na Tabela 2. Além da cordoalha e dos fios, são necessários acessórios
para o acabamento do aramado.
Tabela 2. Características do aramado para a formação de um
hectare de vinhedo conduzido em latada.
Fio Número de fios
Carga mínima de ruptura (kgf)
Diâmetro (m)
Quantidade (m)
Etapas para Formação do Vinhedo
O formato da latada deve ser, de preferência, quadrado ou
retangular. Entretanto, pode ter outra forma, como a de um trapézio.
Marcação do Terreno e Colocação dos Postes
A formação do vinhedo inicia com a marcação das covas, que
pode ser feita com um teodolito ou através do esquadrejamento. Estica-se uma
linha de pedreiro ou um fio onde deve se localizar uma das cabeceiras ou das
laterais. Na extremidade dessa linha, instala-se uma estaca onde deverá se
situar uma das cantoneiras e, a partir dela, fazer um outro alinhamento de 20
m. Uma segunda estaca deve ser colocada a 15 m da estaca da cantoneira e no
mesmo alinhamento do fio. A partir dela, estica-se uma linha ou fio de 25 m de
comprimento, de modo que a extremidade do alinhamento de 20 m coincida com o
alinhamento de 25 m. Coloca-se, então, uma baliza sobre esta estaca e a estaca
correspondente à cantoneira. Após, com uma terceira estaca faz-se o alinhamento
desta com a cabeceira ou a lateral do vinhedo até completar o seu comprimento.
Esse procedimento deve ser repetido na outra extremidade do alinhamento
inicial. Ligam-se, então, as extremidades dos alinhamentos das cabeceiras ou
dos laterais. No contorno, colocam-se estacas conforme os espaçamentos
pré-deteminados para o vinhedo. A seguir, unem-se as estacas correspondentes da
cabeceira e da lateral com um fio. A interseção desses alinhamentos corresponde
à marcação dos postes internos.
A escavação pode ser feita com trator munido de broca e seu
diâmetro deve ser de pelo menos 2,5 vezes o dos postes. Essas escavações são
verticais para os postes das cabeceiras, dos laterais e dos internos e
inclinadas de 60º para os rabichos. O preparo dos postes, como os entalhes,
pode ser feito anteriormente à instalação da latada. Emprega-se, em geral, um
molde para fazer a marcação dos entalhes dos postes e dos rabichos. Os entalhes
dos postes de cabeceira devem ser feitos de preferência após sua instalação:
deve-se fazer dois anelamentos rasos semicirculares a 50 cm da parte de cima do
poste, um para cada rabicho, com uma distância de 5 cm um do outro.
Recomenda-se começar a instalação do vinhedo por um poste de
cabeceira ou por um poste lateral vizinho ao cabeceira. Inicialmente, faz-se
uma marca que identifica o comprimento do poste que ficará acima e abaixo do
solo. Coloca-se o poste no buraco e alinha-se esta marcação rente à superfície
do solo. Após, mede-se o comprimento vertical da parte superior do poste até a
superfície do solo. Se a latada estiver em área plana, esticam-se duas linhas,
uma na parte superior e a outra na metade do comprimento exposto, ligando os
dois postes vizinhos às cantoneiras de cada cabeceira e de cada lateral. A
instalação dos demais postes externos terá a inclinação e a altura dos postes
onde essas linhas foram amarradas. Mas, se a latada for instalada em solo
irregular, o que é o mais freqüente, a instalação dos postes externos deverá
ser feita individualmente. Neste caso, usa-se molde de madeira ou de metal com
as dimensões de comprimento do poste e altura vertical. Para evitar que a terra
do fundo do buraco ceda e o poste afunde, coloca-se pedra ou terra batida.
Colocado o poste, deve-se encher esse buraco com terra e compactá-la
completamente.
Colocados todos os postes de cabeceira e os laterais,
procede-se à instalação das cantoneiras. Faz-se um alinhamento da base da cantoneira
com a base dos postes laterais e de cabeceira, cuja parte superior deve estar
alinhada com a parte superior desses postes. Feito isso, compacta-se a terra.
A colocação dos postes internos pode ser feita antes ou
depois da colocação do aramado. Se após, tem-se a vantagem de conhecer o ponto
de apoio e de fixação de um poste interno através da interseção do fio da
produção com o fio de sustentação da malha. Esse procedimento conduz a um
alinhamento perfeito. Além disso, em solos irregulares a instalação do aramado
antes da dos postes internos pode fazer com que o vinhedo não tenha sempre a
mesma distância da malha até o solo. Os rabichos são instalados após os demais
postes: para cada poste de cabeceira ou lateral há um rabicho; mas para as
cantoneiras há dois, um para o cordão de cabeceira e, outro, para o cordão
lateral.
Instalação do Aramado
Ao adquirir os fios, eles não devem ser armazenados próximos
de adubos ou em locais excessivamente úmidos, pois isso pode comprometer sua
qualidade. Para desenrolar os fios, deve-se usar um desenrolador de arame ou,
na ausência deste, colocar três estacas inclinadas no interior do rolo.
Inicia-se a instalação do aramado pelos cordões de cabeceira
ou laterais. A seguir, colocam-se sucessivamente o fio de sustentação da malha,
o fio da produção e, finalmente, o fio da folhagem. Este fio é desenrolado numa
cabeceira e finalizado na outra, tomando-se o cuidado de passá-lo sobre o fio
de sustentação da malha. A seguir, ele é cortado e emendado. Faz-se um novo
arremate com o fio da folhagem na outra cabeceira, tensionando-o com um
alicate. Recomenda-se iniciar o tensionamento da malha pelo vão situado no meio
da cabeceira e, a partir daí, proceder dessa forma alternadamente com o vizinho
da esquerda e da direita.
Espaldeira
O sistema de condução espaldeira é um dos mais utilizados
pelos viticultores nos principais países vitivinícolas. No Rio Grande do Sul, é
adotado especialmente na
Campanha e na Serra do Sudeste e por algumas vinícolas da
Serra Gaúcha. As videiras conduzidas em espaldeira tem dossel vertical e a poda
é mista ou em cordão esporonado. As varas são atadas horizontalmente aos fios
da produção do sistema de sustentação do vinhedo. Se necessário, os ramos são
despontados. Normalmente, deixam-se duas varas/planta quando a poda é mista; em
cordão esporonado, há dois cordões/planta. A distância entre as fileiras varia
de 2,0 a 2,50 m, mas se a altura do dossel vegetativo for de 1,0 m a captação
da radiação solar é maximizada com fileiras distanciadas de 1,0 m. A distância
entre plantas é de 1,20 a 2,0 m, conforme a variedade e a fertilidade do solo.
A zona de produção geralmente situa-se entre 1,0 e 1,20 m do solo. Deixam-se de
65 mil a 80 mil gemas/ha, dependendo principalmente da variedade. A altura do
sistema de sustentação do solo até a parte superior é de 2,0 a 2,20 m (Figura
2).
Principais Vantagens
Adapta-se bem ao hábito vegetativo da maior parte das
viníferas;
Os frutos situam-se numa área do dossel vegetativo e as
extremidades dos ramos em outra: isso facilita as operações mecanizadas, como
remoção de folhas, pulverizações dos cachos e desponta; Apresenta boa aeração;
Pode ser ampliado paulatinamente, pois a estrutura de cada
fileira é independente;
O custo de implantação é menor que o do latada; É atrativo
aos olhos, especialmente quando se faz a desponta.
Principais Desvantagens
Apresenta tendência ao sombreamento, portanto não é indicado
para cultivares muito vigorosas ou para solos muito férteis;
A densidade de ramos geralmente é muito elevada; Se a
distância das fileiras for maior que 3,0 m, a área de superfície do dossel
vegetativo será pequena;
Como conseqüência do exposto no item c, é necessário
compensar a perda exagerada da produtividade com elevada carga de gemas o que
aumenta o sombreamento e diminui a qualidade da uva e do vinho.
Manejo do Dossel Vegetativo
Geralmente, são necessários de dois a três repasses durante
o ciclo vegetativo para posicionar os ramos. Essa prática pode ser realizada
colocando os ramos entre os fios e amarrando-os quando necessário. Mas, é bem
mais rápido quando o sistema de sustentação possui fios móveis para o
posicionamento dos ramos. Esses fios devem ser colocados paralelos ao 2º fio e
são movimentados em direção aos ramos, apanhando-os e posicionando-os para
cima. Portanto, não necessitam ser atados. O primeiro posicionamento dos ramos
deve ser feito próximo à floração e o último, antes da mudança de cor da uva. A
desponta deve ser feita deixando-se ramos com cerca de 1,30 m de comprimento,
os últimos 30 cm dos ramos estendendo-se além do 4º fio.
Instalação do Sistema
As considerações gerais feitas sobre o material utilizado
para a formação de um vinhedo conduzido em latada servem, também, para um
conduzido em espaldeira.
Portanto, descrevem-se, a seguir, somente as especificações
do material e os passos para a instalação do vinhedo.
Postes
A estrutura do sistema de sustentação da espaldeira é
formada de postes de cabeceira e internos, rabichos, tutores e fios. Os postes
de cabeceira devem ter 2,50 m de comprimento e de 12 a 14 cm de diâmetro e são
colocados nas extremidades das fileiras; os postes internos, 2,20 m de
comprimento e de 7 a 10 cm de diâmetro, colocados a uma distância máxima de 5,0
m um do outro.
Os rabichos medem 1,20 m de comprimento e são colocados em
cada extremidade das fileiras da mesma forma que o foram para o sistema latada.
Sua colocação pode ser externa ao sistema de sustentação, em posição oblíqua e
afastando-se da cabeceira; ou internos, oblíquos e escorando as cabeceiras das
fileiras.
O aramado é formado por três ou quatro fios. Neste caso, o
1° fio situa-se de 1,0 a 1,20 m do solo; o 2°, a 30 cm do primeiro; o 3°, a 35
cm do segundo; e o 4°, a 35 cm do terceiro. Para manter o dossel numa posição
vertical pode-se usar um fio suplementar, móvel, paralelo ao 2° fio.
Similarmente ao sistema de condução latada, o material
necessário para a formação de um vinhedo conduzido em espaldeira é variável
conforme as características do desenho idealizado. A seguir, descrevem-se os
postes necessários para a formação de um hectare de vinhedo no formato de
quadrado possuindo as seguintes especificações:
a) distância entre fileiras - 2,0 m; b) distância entre
plantas - 1,50 m; c) distância entre os postes internos - 5,0 m; d) há um fio
da produção, três fios fixos da vegetação e um fio móvel de posicionamento do
dossel (Tabela 3).
Tabela 3. Especificações e número de postes para formar um
hectare de vinhedo conduzido em espaldeira.
Tipo de poste Comprimento (m) Diâmetro (cm) Número de peças
Cabeceira 2,50 12 a 14 98
Fórmula para determinar o número de cabeceiras necessários:
Número de fileiras x 2.
Fórmula para determinar o número de postes internos:
[(comprimento de cada fileira ÷ espaçamento dos postes internos)
-1] x Número de fileiras
Arames
O aramado do sistema de condução espaldeira é bem mais
simples que o do latada, pois consta de fios da produção, da vegetação e
rabichos. Os fios da produção sustentam as cabeças das videiras, quando
conduzidas em poda mista, ou os cordões, quando conduzidas em cordão
esporonado. Os fios da vegetação são geralmente quatro, sendo três fixos e um
móvel, este paralelo ao 2º fio. Tanto os fios da produção como os da vegetação,
partem de um poste cabeceira, passam pelos postes internos e terminam no poste
cabeceira da outra extremidade da fileira. Os fios rabichos sustentam as
cabeceiras.
As características dos diferentes tipos de fios que podem
ser utilizados no sistema de sustentação de um vinhedo conduzido em latada são
descritas na Tabela 4.
Tabela 4. Características do aramado para a formação de um
hectare de vinhedo conduzido em espaldeira.
Fio Número de fios
Carga mínima de ruptura (kgf)
Diâmetro (m)
Quantidade (m)
Fio da
Etapas para Formação do Vinhedo
A instalação de um vinhedo conduzido em espaldeira é mais
simples, e mais barata, que a da latada. É conveniente que as fileiras não
excedam 100 m de comprimento e que o espaçamento entre os postes internos seja,
no máximo, de 5 m. A colocação das estacas em áreas planas deve ser feita da
mesma forma que a instalação de uma latada. Em área com declives, recomenda-se
colocar as fileiras em curvas de nível. A escavação dos pontos demarcados pelas
estacas pode ser feito com broca de trator.
Os entalhes das cabeceiras são feitos de acordo com o número
de fios a serem utilizados. Recomenda-se furar os postes internos para a
passagem dos fios, o que assegura maior sustentação vertical e horizontal ao
aramado. Os furos devem ter ½ polegada no mínimo, a fim de evitar acúmulo de
umidade e corrosão dos fios. Os entalhes e as furações devem ser feitas de
preferência antes da instalação dos postes.
A instalação das cabeceiras e dos rabichos é feita da mesma
forma que a colocação das cabeceiras e dos laterais da latada.
Após a colocação dos postes, deve-se compactar a terra para
evitar que caiam com as intempéries e o peso da vegetação e da produção. As
espaldeiras construídas em curva de nível devem ter um comprimento menor que as
de terreno plano. Além disso, os postes internos devem ser um pouco maiores
para que a parte que fica em baixo da terra seja maior.
Fig. 2. Sistema de condução da videira em espaldeira e com
poda mista: a) poste de cabeceira; b) poste interno; c) fio da produção; d)
fios fixos da vegetação; e) fio móvel da vegetação. (Ilustração: A. Miele)
Poda
A poda compreende um conjunto de operações que se efetuam na
planta e que consistem na supressão parcial do sistema vegetativo lenhoso
(sarmentos, cordões e, excepcionalmente, tronco) ou herbáceo (brotos,
inflorescências, cachos, bagas, folhas, gavinhas).
A videira, em seu meio natural, pode atingir grande
desenvolvimento. Nessas condições, a produtividade não é constante, os cachos
são pequenos e a uva é de baixa qualidade. Ao limitar o número e o comprimento
dos sarmentos, a poda seca proporciona um balanço racional entre o vigor e a
produção, regularizando a quantidade de uva produzida. A poda verde
constitui-se num importante complemento da poda seca para melhorar as condições
do dossel vegetativo do vinhedo e, conseqüentemente, da qualidade da uva.
Poda Seca
Os principais objetivos da poda seca são: a) propiciar que
as videiras frutifiquem desde os primeiros anos de plantio; b) limitar o número
de gemas para regularizar e harmonizar a produção e o vigor, de modo a não
expor as videiras a excessos de produção que podem levá-las a períodos de baixa
frutificação; c) melhorar a qualidade da uva, que pode ser comprometida por uma
elevada produção; d) uniformizar a distribuição da seiva elaborada para os diferentes
órgãos da videira; e) proporcionar à planta uma forma determinada que se
mantenha por muito tempo e que facilite a execução dos tratos culturais.
Escolha do sistema de poda
A eleição de um sistema de poda depende da cultivar, das
características do solo, da influência do clima e de aspectos sanitários.
Cultivar: em condições similares de clima e solo, as
diversas cultivares apresentam desenvolvimento vegetativo diferenciado. Nas
vigorosas deixa-se um maior número de gemas/vara.
O sistema de poda depende também da localização das gemas
férteis ao longo do sarmento. Quando as gemas férteis estão situadas em sua
base, normalmente faz-se a poda em cordão esporonado; as cultivares que
apresentam gemas inférteis na base do sarmento exigem poda longa ou mista. O
comprimento dos entrenós também deve ser considerado para a realização da poda.
Características do solo: o vigor da planta está relacionado
com a fertilidade do solo. Videiras em solos de baixa fertilidade não são muito
vigorosas e, por isso, normalmente adota-se a poda curta; solos férteis
propiciam grande desenvolvimento às videiras, sendo então utilizada a poda
longa.
Influência do clima: uma mesma cultivar, plantada em solos
similares, comporta-se segundo as características climáticas do local. Em áreas
sujeitas a geadas tardias, a videira deve ser conduzida mais alta. Em climas
úmidos, as gemas da base do sarmento geralmente são inférteis. Climas secos
proporcionam maior fertilidade das gemas da base do sarmento. É importante,
ainda, considerar a predominância dos ventos.
Nas regiões onde a incidência direta do sol não é favorável
à qualidade da uva, devese fazer a poda de forma que os cachos fiquem
sombreados; nas regiões frias e úmidas, a poda deve facilitar a incidência dos
raios solares nos cachos.
Aspectos sanitários: as partes da videira com umidade
persistente e pouco arejadas propiciam o desenvolvimento de doenças fúngicas.
Para evitar a proliferação de doenças nas videiras, deve-se eleger o sistema de
poda que assegure o máximo de circulação de ar e penetração de luz.
Localização e tipos de gemas
Na videira não se distinguem gemas vegetativas e gemas
frutíferas, como em muitas espécies, mas somente gemas mistas que originam
brotos com inflorescências e folhas ou somente folhas. A gema da videira é
composta, sendo a principal chamada de primária, que geralmente dá origem a um
broto frutífero; as outras duas são chamadas de secundárias, que geralmente
brotam quando ocorrer algum dano com a gema primária (geada, granizo, quebra
pelo vento, dano nas gemas superiores), as quais dão origem a brotos que podem
ser férteis ou não.
As gemas da videira se localizam nas axilas das folhas, na
posição lateral do ramo, inseridas junto aos nós (Fig. 1).
Gemas prontas: formam-se na primavera-verão, cerca de uma
dezena de dias antes das gemas francas. Assim que formadas podem dar origem a
uma brotação chamada feminela ou neto (ramo antecipado), que segundo a cultivar
pode ser estéril, pouco ou muito fértil. Localiza-se, também, na axila das
folhas, ligeiramente descentralizada e ao lado da gema franca.
Gemas francas ou axilares: formam-se na base das gemas
prontas, junto à inserção do pecíolo foliar e permanecem dormentes durante o
ano de formação, mas sofrem uma série de transformações. A formação dos
primórdios florais se completa somente na primavera seguinte. Durante a
brotação e desenvolvimento dos ramos, as gemas francas não brotam porque são
inibidas pela atividade dos ápices vegetativos (dominância apical) e das gemas
prontas (inibição correlativa). Essas gemas podem produzir geralmente de um a
três cachos, dependendo da cultivar.
Gemas basilares, da coroa ou casqueiras: são um conjunto de
gemas não bem diferenciadas que se formam na base do ramo, junto à inserção do
broto do ano com a madeira do ano anterior. Somente brotam quando se fizer poda
curta, aplicação de regulador de crescimento ou ocorrer problemas com as gemas
francas. Geralmente são inférteis na maioria das cultivares viníferas.
Gemas cegas: são as mais desenvolvidas das gemas basilares,
sendo as primeiras gemas visíveis localizadas logo acima dessas.
Fig. 1. O sarmento da videira e suas partes (Segundo Chauvet
& Raynier, 1984).
Princípios fundamentais da poda
Mesmo que os sistemas de poda sejam transmitidos durante
gerações, de forma empírica ou intuitiva, é importante que o podador conheça as
bases racionais nas quais se sustenta a difícil técnica de podar. Os princípios
da poda são os seguintes:
A videira normalmente frutifica em ramos do ano que se
desenvolvem de sarmentos do ano anterior.
O sarmento que proporcionou um broto frutífero não produz
novamente, por isso deve ser substituído por outro que ainda não tenha
produzido. A preocupação deve ser o presente (próxima safra), mas não se pode
esquecer o futuro (safras subseqüentes).
A frutificação é em geral inversa ao vigor, pois a produção
de uva reduz a capacidade da videira para a próxima safra ou safras. As
videiras com altas produções apresentam menos vigor e terão menor produtividade
no ano seguinte ou nos anos seguintes.
O vigor individual dos ramos de uma videira é inversamente
proporcional ao seu número.
Quanto mais o ramo se aproximar da posição vertical, maior
será o seu vigor. A brotação inicia pelas gemas das pontas das varas ou
esporões (brotação mais precoce e mais vigorosa); as gemas da parte mediana e
da base das varas brotam posteriormente e algumas delas, muitas vezes, nem
brotam. A curvatura da vara, as amarrações e o uso de reguladores de
crescimento alteram essa dominância. Uma videira só tem condições de nutrir e
maturar de forma eficaz uma determinada quantidade de frutos. Os ramos mais
afastados do tronco são, em igualdade de condições, os mais vigorosos. As gemas
mais afastadas da base do ramo têm, em geral, maior fertilidade.
O tamanho e o peso dos cachos, nas mesmas condições de
cultivar, solo, clima e poda, aumentam quando se faz desbaste de cachos após o
pegamento do fruto.
Para continuar um braço, se elegerá o sarmento situado mais
próximo da base.
Qualquer que seja o sistema de poda aplicado, o viticultor
deverá vigiar para que a futura área foliar e a produção tenham as melhores
condições de aeração, calor e luminosidade.
Informações adicionais aos princípios da poda
A dominância apical é variável em função da cultivar (as que
possuem forte dominância apical devem ser podadas curtas), do vigor da videira
(plantas fracas apresentam dominância apical mais marcada), do rigor do período
de repouso (inverno deficiente a favorecem) e do tipo de sustentação
(orientação dos ramos). A adequada nutrição de carboidratos, crescimento
moderado do ramo e produtividade normal favorecem a maturação do ramo e
propiciam a formação de gemas frutíferas. Os sarmentos maduros armazenam maior
quantidade deRESERVAS (amido e sacarose)
que sarmentos parcialmente maduros.
O comprimento do entrenó está relacionado com o vigor da
planta (velocidade de crescimento). Ramos formados no início do ciclo e com
crescimento regular terão entrenós com comprimento normal, o que significa
dizer boas condições para o desenvolvimento das gemas frutíferas e para a
maturação; entrenós muito longos indicam excesso de vigor e de crescimento,
induzindo a formação de sarmentos imaturos e deficiente desenvolvimento das
gemas frutíferas; entrenós muito curtos ocorrem quando há nutrição deficiente,
falta de água, pragas ou doenças.
Os ramos ladrões com crescimento normal podem ser utilizados
como elementos da poda. Quando o desenvolvimento é rápido, com excessivo vigor,
apresentam gemas pouco férteis ou geralmente estéreis.
O podador deve selecionar as varas e os esporões pela sua
condição (vigor e sanidade) e, após, pela sua posição na planta.
Época da poda
A época depende de vários fatores, entre os quais a
cultivar, tamanho do vinhedo, topografia do terreno (riscos de geadas tardias),
disponibilidade de mão-de-obra qualificada, concorrência com outras atividades
na propriedade, umidade do solo e objetivos da produção (indústria, mesa).
A poda é feita durante o período de repouso da videira, isto
é, desde a queda das folhas até pouco antes do início da brotação. Nas regiões
expostas a geadas tardias poda-se tarde, quando as gemas das extremidades dos
sarmentos já estão brotadas; nos climas temperados, durante o inverno; e
podam-se tarde as videiras vigorosas e cedo, as fracas. As podas excessivamente
precoces ou demasiadamente tardias são debilitantes para a videira e retardam a
brotação.
A poda tardia, geralmente apresenta as seguintes vantagens:
a brotação tardia é mais uniforme; há menor incidência de antracnose e menor
probabilidade de danos por geadas; propicia maior produtividade do vinhedo; e a
temperatura é mais adequada para o desenvolvimento dos tecidos e órgãos da
videira.
Elementos da poda
Os elementos da poda são o esporão e a vara. O esporão
desempenha duas funções na poda, ou seja, frutificação e produção de sarmento
para a futura poda. Quando adotada a poda mista, sua função principal é a
produção de sarmentos. A função da vara é a frutificação. Nos sistemas que
adotam a poda longa (somente varas), seleciona-se como vara a brotação do
sarmento do ano anterior mais próxima da base.
Sistemas de poda
Há grande variabilidade de sistemas de poda, em função da
cultivar, clima, solo e porta-enxerto. Mas, podem ser agrupados em poda curta
(cordão esporonado), poda longa (vara) e mista (vara e esporão). A poda é
considerada curta quando o esporão tem até três gemas francas (geralmente duas),
longa quando as varas tem mais de quatro gemas (geralmente de seis a dez) e
mista quando permanecem esporões e varas na mesma planta.
Em função do número de gemas deixadas na videira a poda pode
ser rica, média ou pobre. Uma poda é considerada rica quando permanecem mais de
120 mil gemas por hectare e pobre, quando esta quantidade é de 50 mil a 60 mil
gemas por hectare. Existe uma carga ótima para cada planta, dependendo das
condições existentes. Se a quantidade de gemas for menor daquela que a planta exigir,
os brotos serão muito vigorosos, haverá maior número de ladrões e,
eventualmente, surgirão problemas com a floração; caso a quantidade de gemas
for exagerada, resultará numa produção excessiva de frutos que debilitará a
planta. O equilíbrio entre a parte vegetativa e a produtiva pode ser expresso
pela relação peso fresco do fruto/peso da poda. Um vinhedo equilibrado
apresenta valores entre 5 e 10.
Sendo a poda mista e o sistema de condução o latada,
deixam-se de 5 a 6 varas (6 a 8 gemas por vara) e de 10 a 12 esporões (2 gemas
por esporão) por planta; mas se o sistema for o espaldeira, deixam-se 2 varas,
uma para cada lado do fio de sustentação da produção, e 3 ou 4 esporões por
planta.
No caso de haver necessidade de renovação de parte da planta
no sistema latada, deve-se deixar varas contendo um certo número de gemas,
determinado principalmente pela posição do esporão que deu origem a essa vara
em relação aos fios de sustentação da folhagem, que serão utilizadas para
substituir as partes comprometidas (braços ou cordões) da videira.
Localização dos cortes de poda
Quando o corte for realizado no tronco ou nos braços da
videira, geralmente ocorre a morte dos tecidos subjacentes à secção do corte se
esses forem efetuados rasos. Por esses cortes se infiltra a água da chuva, que
pode provocar a decomposição e a necrose do tecido caso não sejam adequadamente
protegidos até que se forme a cicatriz que os isola dos agentes externos. É
importante deixar um pouco de madeira, a qual contribuirá para melhorar a
cicatrização.
Os cortes nas varas e esporões não devem deixar a medula
exposta, pois pode ocorrer acúmulo de água da chuva e a entrada de insetos e
fungos parasitas da videira. Geralmente poda-se logo acima da última gema que
se quer deixar, a fim de que permaneça uma pequena porção da medula. O corte
deve ser em bisel, com a parte mais comprida do lado da última gema.
Tipos de poda
Há quatro tipos de poda da videira: implantação, formação,
frutificação e renovação, realizadas em função da idade da videira.
Poda de implantação: efetuada na muda, antes do plantio.
Consiste no encurtamento das raízes que se quebraram durante o transporte e na
poda do enxerto a duas ou três gemas. As mudas importadas e de alguns
viveiristas nacionais apresentam o enxerto protegido por uma camada de cera e
geralmente são plantadas sem podar a parte aérea. Poda de formação: tem por
finalidade dar a forma adequada à planta, de acordo com o sistema de
sustentação adotado. Desde o plantio da muda ou da enxertia é importante que
ocorra um bom desenvolvimento da área foliar e, conseqüentemente, do sistema
radicular. Por isso, toda a vegetação da planta deve ser mantida em boas
condições.
A formação da planta deve ser bem planejada e posta em
prática no início da brotação. Na Serra Gaúcha, adotam-se os seguintes
procedimentos: o broto de maior vigor do enxerto ou da muda (Fig. 2A) é
conduzido mediante sucessivas amarrações junto ao tutor (Fig. 2B); quando esse
broto alcançar a estrutura da latada ou o primeiro fio da espaldeira, será
despontado cerca de 10 cm abaixo desta (Fig. 2C), para eliminar a dominância
apical e estimular a brotação e o desenvolvimento das feminelas; os brotos das últimas
duas feminelas são conduzidos no arame, mediante amarrações no sentido da linha
de plantio, um para cada lado (Fig. 2D). Esses brotos serão os futuros braços
da videira. Caso eles tiverem o vigor suficiente, poderão ser novamente
despontados. Nos sistemas em que se adotar a condução em um braço, o ramo
principal não será despontado, devendo ser conduzido junto ao tutor e quando
alcançar o primeiro fio da estrutura será desviado e conduzido no sentido
desejado. O mesmo poderá ser despontado quando alcançar a videira seguinte.
A poda de formação consiste em podar os futuros braços das
videiras deixando no máximo seis gemas (Fig. 2E). As mudas que não foram
despontadas, mas que apresentam vigor suficiente, são podadas na altura da
estrutura de sustentação. As mudas fracas devem ser podadas a duas gemas. É
importante manter uniformidade no desenvolvimento das mudas, pois videiras com
diferentes idades dificultam o manejo e os tratos culturais do vinhedo.
Normalmente, a poda de formação é concluída até o terceiro
ano. A poda de formação adequada proporciona maior facilidade para a realização
da poda de frutificação.
Fig. 2. Poda de formação: A - enxerto ou muda; B - condução
da muda; C - desponta; D - condução das feminelas; E - poda seca. (Desenhos:
Adriano Mazzarolo)
Poda de frutificação: A poda de frutificação, também chamada
de poda de produção, tem por objetivo preparar a videira para a produção da
próxima safra.
Deve ser feita através da eliminação de sarmentos mal
localizados ou fracos e de ladrões, a fim de que permaneçam na planta somente
as varas e/ou esporões desejados. A carga de gemas do vinhedo deve ser adequada
à maximização da produtividade e da qualidade de uva, sem comprometer as
produções dos anos seguintes.
Nas videiras espaçadas de 2,5 m x 1,5 m, conduzidas em
latada e com poda mista, pode-se deixar, em cada braço, três varas com 6 a 7
gemas cada uma e até 6 esporões com duas gemas cada um (Fig. 3A). Isso resulta
de 60 a 6 gemas/planta. As varas devem estar distanciadas entre si cerca de 50
cm. Portanto, nos 75 cm de cada braço permanecem duas varas num sentido e uma
no sentido oposto. Os esporões devem ficar bem distribuídos ao longo de cada
braço. As sucessivas podas de frutificação consistem em eliminar as varas que
já produziram e substituí-las por outras originadas dos esporões (Fig. 3B). Das
duas brotações dos esporões (Fig. 3C) seleciona-se, na próxima poda, a mais
afastada do braço para ser a futura vara (Fig. 3D) e a mais basal para ser o
esporão (Fig. 3E). Desta forma, a carga básica é de 6 varas e 12 esporões por
videira.
Fig. 3. Poda de frutificação: A - planta antes da poda,
mostrando os sarmentos originados dos esporões e varas deixados no ano
anterior; B - planta mostrando as varas e os esporões deixados após a poda; C -
brotação das duas gemas do esporão; D - detalhe indicando a posição dos cortes
na poda mista de inverno; E - detalhe mostrando a vara e o esporão após a poda.
(Desenhos: Adriano Mazzarolo)
Nas videiras conduzidas em espaldeira pode-se adotar a poda
tipo Guyot (vara e esporão) seguindo, basicamente, o que foi descrito para a
latada ou o cordão esporonado (somente esporões). Nesse caso, os esporões devem
ficar distanciados cerca de 20 cm entre si.
Nas videiras conduzidas em Y, pode-se adotar a poda mista,
conforme descrito para a latada, ou o cordão esporonado, sendo a vegetação
distribuída nos dois planos de sustentação. Geralmente, as varas apresentam
menor número de gemas do que no sistema latada.
Poda de renovação: a poda de renovação consiste em eliminar
as partes da planta, principalmente braços e cordões, que se encontram com
pouca vitalidade devido a acidentes climáticos, danos mecânicos, doenças ou
pragas, e substituí- los por sarmentos mais jovens. É utilizada, também, para
rebaixar partes da planta que se elevaram em demasia em relação ao aramado, bem
como às partes que devido a sucessivas podas se distanciaram dos braços ou
cordões. Para a renovação de toda a copa, utiliza-se a brotação de uma gema
latente do tronco (ladrão) bem localizada e a partir dela se reconstitui a
planta. Essa prática é pouco utilizada sendo preferível a substituição da
videira.
Poda Verde
Denomina-se poda verde as operações efetuadas durante o
período vegetativo da videira. Desde que efetuada com cautela e na época
oportuna, poderá melhorar as condições do microclima dos vinhedos,
possibilitando, com isso, a diminuição de doenças fúngicas, maior eficiência
nos tratamentos fitossanitários e colheitas mais equilibradas. Entretanto, seus
efeitos serão prejudiciais se realizada fora da época ou de forma abusiva, pois
se estará reduzindo a capacidade fotossintética da videira.
O manejo do dossel vegetativo é efetuado com o objetivo de
complementar a poda seca da videira e de melhorar o equilíbrio entre a
vegetação e os órgãos de produção. No manejo do dossel, a poda verde é uma de
suas principais atividades. Os objetivos gerais da poda verde na videira são:
1) direcionar o crescimento vegetativo para as partes que formarão o tronco e
os braços; 2) diminuir os estragos causados pelo vento; e 3) abrir o dossel
vegetativo de maneira a expor as folhas mais favoravelmente à luz e ao ar.
As principais modalidades de poda verde, realizada nas
videiras destinadas à elaboração de vinhos finos, são a remoção de gemas, a
desbrota, a desponta e a desfolha.
Remoção de gemas
Consiste na eliminação das gemas antes da brotação. Ela pode
ser praticada tanto na poda de formação quanto na de frutificação. Na poda de
formação são eliminadas as gemas que estão localizadas abaixo do fio de
sustentação bem como as gemas localizadas no lado de baixo dos futuros cordões.
A remoção de gemas da parte inferior do tronco de uma planta jovem é realizada
com o intuito de concentrar o crescimento em um ou mais ramos situados na parte
superior, os quais formarão os braços da videira.
Na poda de frutificação, principalmente nas cultivares que
possuem entrenós curtos ou com vegetação muito fechada, pode-se podar as varas
com maior número de gemas e após eliminar as excedentes, visando melhorar a
distribuição da futura vegetação.