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sexta-feira, 22 de maio de 2015

Cultivo da Videira Niágara Rosada em Regiões Tropicais



Cultivo da Videira Niágara Rosada em Regiões Tropicais do Brasil

Apresentação

A história da viticultura nas regiões tropicais brasileiras compõe um cenário que mescla o ceticismo e a ousadia inicial, a organização setorial, osINVESTIMENTOS  públicos e a evolução tecnológica na fase de implantação/consolidação, a projeção nacional e internacional e o sucesso empresarial dos anos 1980 até meados da década de 1990 e a natural necessidade de ajustes das características dos produtos ofertados às exigências do mercado consumidor, em constante mudança.
Neste contexto, já em meados da década de 1980 alguns viticultores, sobretudo aqueles pequenos e médios localizados na região noroeste do Estado de São Paulo, sentiram a necessidade de buscar outras alternativas varietais no sentido de ajustar a matriz produtiva, baseada principalmente na variedade Itália e sua mutação Rubi às novas exigências, gostos e preferências do mercado consumidor. Entre as diferentes alternativas possíveis havia um interesse especial pela variedade Niágara Rosada, tanto pela boa aceitação que tem no mercado consumidor brasileiro quanto pelo relativo baixo custo de produção e possibilidade, neste caso, de produzir na entressafra das tradicionais regiões produtoras, (Região Sul do Brasil e Leste Paulista). Entretanto, as dificuldades no ajuste do manejo da variedade naquelas condições tropicais, até então não estudado, inviabilizavam a sua exploração comercial devido a baixa produtividade das plantas.
A partir do início da década de 1990, com a criação da Estação Experimental de
Viticultura Tropical (Jales-SP), vinculada ao Centro Nacional de Pesquisa de Uva e Vinho da Embrapa, deu-se prioridade ao trabalho de avaliação e adaptação de variedades americanas e híbridas com características e potencial para virem a ser a alternativa então buscada pelos viticultores. Os resultados obtidos evidenciaram, confirmando as expectativas, o potencial da variedade Niágara Rosada. Como normalmente acontece na experimentação agropecuária aplicada, a medida em que os resultados iam sendo obtidos pela pesquisas eram gradualmente difundidos através de dias de campo, palestras etc, o que justifica o fato de muitas das informações disponibilizadas nesta obra já .se encontrarem incorporadas às práticas culturais nos diversos pólos vitícolas nacionais como Jales-SP; Pirapora-MG; Marialva e Bandeirantes-PR e Primavera do Leste e Nova Mutum-MT.
Portanto, é com muita satisfação que a Embrapa Uva e Vinho lança o presente Sistema de Produção para a "Cultura da Niágara Rosada em Áreas Tropicais do Brasil", ciente da importância do mesmo para a cadeia produtiva vitícola tropical brasileira, assumindo ao mesmo tempo o compromisso de continuar avançando nas pesquisas de forma a, periodicamente, atualizar estas informações dando ainda mais capacidade competitiva a esta importante alternativa que ora colocamos à disposição dos viticultores.
O Clima em Regiões Tropicais do Brasil
De acordo com a classificação de Köppen apresentada por Pereira et al. (2002), as regiões brasileiras podem ser agrupadas em três grupos de climas, identificados pelas letras A, B e C. Os tipos A e C identificam climas úmidos, enquanto o tipo B identifica clima seco. O tipo A é denominado megatérmico ou tropical úmido, e apresenta temperatura média do mês mais frio acima de 18°C. O tipo C é denominado mesotérmico ou temperado quente, apresentando temperatura média do mês mais frio entre -3°C e 18°C. Por esse critério, algumas regiões do sudeste e centro-oeste brasileiro que apresentam um subtipo de clima denominado tropical de altitude, não são classificadas entre as regiões tropicais úmidas (tipo A), caracterizando-se como de clima temperado quente (tipo C). Já a região mais seca do Nordeste brasileiro, apesar de apresentar temperatura média do mês mais frio superior a 18°C, é caracterizada como possuindo um clima seco (tipo B), sendo classificada como clima semi-árido quente. No presente trabalho serão consideradas, assim, como regiões de clima tropical apenas aquelas que se enquadram no tipo A, denominado tropical úmido.
Entre os diferentes subtipos relacionados ao clima tropical úmido destacam-se o Af, que apresenta chuvas bem distribuídas ao longo do ano, como no oeste da Amazônia e parte do litoral do sudeste; o Am, com pequena estação seca, como ocorre no leste da Amazônia; o Aw, com inverno seco e chuvas máximas de verão, que ocorre nas regiões norte, centrooeste e parte do interior do sudeste; o Aw', que é semelhante ao Aw, mas com a ocorrência de chuvas máximas no outono, como ocorre no norte dos estados do Maranhão, Piauí e Ceará; e o As, com maior incidência de chuvas durante o outono e o inverno, que ocorre em parte do litoral do Nordeste, principalmente entre o norte da Bahia e a Paraíba (Pereira et al., 2002).
O cultivo da videira Niágara Rosada (Vitis labrusca L.) em regiões tropicais é recente, restringido-se às áreas com classificação climática Aw, aquelas com inverno seco e chuvas máximas de verão. Nessas áreas, tem-se buscado a obtenção de uma safra no período mais seco do ano, sob irrigação, deixando-se o período mais úmido para o ciclo de formação dos ramos, com ou sem obtenção de uma safrinha. Em outras regiões tropicais não deve haver grandes limitações ao cultivo dessa variedade, sendo que nas regiões de clima Af e Am, onde ocorrem mais precipitações ao longo do ano, a incidência de doenças fúngicas, como o míldio será mais intensa, exigindo um programa de tratamentos mais sistemático. Além disso, nas regiões de menor latitude a uva poderá ter sua coloração prejudicada devido as temperaturas mínimas serem relativamente altas. Por outro lado, nessas regiões as temperaturas mais altas favorecem a quebra de dormência das gemas e o desenvolvimento dos brotos após a aplicação de cianamida hidrogenada.
Implantação do Vinhedo
Escolha da área Áreas de meia encosta, aptas a mecanização, próximas a fonte de águas para a irrigação devem ser preferidas. Áreas de baixadas, também podem ser usadas, porém a formação de orvalho mais freqüente nesses locais favorece a ocorrência de doenças como o míldio e a antracnose. Os solos profundos e de textura média devem ser os preferidos, pois facilitam o desenvolvimento do sistema radicular, sendo contudo, mais susceptíveis à erosão. Deve-se evitar solos com impedimentos subsuperficiais, mal drenados ou com lençol freático raso, pois estes favorecem a ocorrência de doenças do sistema radicular como a fusariose da videira, principalmente se tiver matéria orgânica em decomposição.
Preparo do solo
Uma vez definido o local, faz-se o preparo do solo. Inicialmente deve-se fazer a limpeza da área, eliminando-se ou retirando-se os restos culturais. Em seguida procede-se às amostragens do solo para análises, caso necessário faz-se as correções da acidez e dos teores de fósforo e potássio, e a marcação das curvas de nível para definir a posição dos terraços para contenção das águas de chuva. Quando é construída mais de uma parreira, no mesmo sentido da declividade é necessário fazer um terraço de base estreita entre as mesmas com dimensão suficiente para captar toda a água de chuva, devendo-se considerar o maior índice pluviométrico histórico do local. Após a confecção dos terraços, o solo deve ser arado e gradeado. A correção da fertilidade é feita nesta etapa, conforme é detalhado no item sobre adubação de correção.
Formação de quebra ventos
A formação de quebra-ventos no contorno da latada se faz necessário para diminuir a velocidade do vento. O vento provoca a quebra de brotos, dificulta a orientação dos ramos durante a formação dos braços causando deformações na estrutura da planta. Algumas espécies para esta finalidade são: capim elefante (Pennisetum spp.), cana-de-açúcar (Saccharam oficinarum), grevilea (Grevilea robusta), eucalipto (Eucaliptus spp.), leucena (Leucaena leucocephala), bananeira (Musa spp.), e Guandu (Cajanus cajan).
Escolha do porta-enxerto
Atualmente os principais porta-enxertos para a viticultura tropical brasileira são as cultivares desenvolvidas pelo Instituto Agronômico de Campinas, IAC-313 'Tropical' (Figura1), IAC-572 'Jales'(Figura2) e IAC-766 'Campinas' (Figura3). O IAC-572 'Jales' que foi introduzido na região noroeste paulista como sendo Tropical (IAC 313), sem vírus, na verdade constatou-se que não se tratava do IAC-313 (Camargo, 1998). Este fato tem causado alguma confusão entre os viticultores, pois o porta-enxerto conhecido na região como sendo Tropical sem vírus, na verdade não se trata da cv. Tropical e nem pode ser garantido que o material esteja livre de vírus.
As três cultivares adaptam-se bem às condições tropicais do Brasil, porém apresentam diferenças quanto ao vigor. As mais vigorosas são a IAC-572 e a IAC-313, seguidos pelo IAC-766. Entre estes porta-enxertos, o IAC-572 é o mais indicado para o cultivo da cv. Niágara Rosada no sistema em latada. A diferença de vigor entre o IAC-572 e o IAC-766 é bem pronunciado como pode ser observado na Figura4. Devido à necessidade de formação de uma boa estrutura da planta já no primeiro ano após a enxertia, o IAC-572 é o que oferece a maior possibilidade de sucesso, uma vez que confere bom vigor à copa. O IAC 766 também pode ser usado, porém confere maior suscetibilidade às cochonilhas do tronco. Das três cultivares apenas o IAC 766 poderá ser indicado para cultivo da 'Niágara Rosada' em sistema de espaldeira devido ser o menos vigoroso.
Fig. 1. Broto do porta-enxerto IAC-313 'Tropical'. (Foto: J. Dimas G.M).

Fig. 2. Broto do porta-enxerto IAC-572 'Jales'. (Foto: J. Dimas G.M)
Fig. 3. Broto do IAC-766 'Campinas'. (Foto: J. Dimas G.M.)
Fig. 4. Plantio de IAC-572 (D) e IAC-766 (E). Observa-se a diferença de vigor. (Foto: J. Dimas G.M.)
Formação das mudas de porta-enxertos
Para a formação de mudas são retirados ramos lignificados com 10 a 12 meses de idade, com 0,75 cm a 1,25 cm de diâmetro, de plantas sadias livres de vírus, no período seco ('inverno'). Os ramos devem ser limpos (retirada de folhas, gavinhas e brotos laterais), devendo ser utilizados o mais rápido possível. O período ideal para iniciar a formação das mudas de porta-enxertos é nos meses de junho a agosto quando o material está dormente. Se os ramos não forem utilizados imediatamente, devem ser conservados em ambientes refrigerados com temperatura de 5ºC e umidade relativa igual a 95%. Se a câmara fria não dispuser de controle de umidade relativa, os ramos devem ser envolvidos com papel úmido e acondicionados em sacos de plástico, fechados para não desidratar, ou serem estratificados em areia grossa úmida em lugares sombreados. Os ramos estratificados em areia grossa conservam-se por cerca de 21 dias, enquanto que em condições refrigeradas por até um ano.
Para a formação das mudas de porta-enxerto, os ramos são cortados com 40 a 45 cm de comprimento, com 4 a 5 gemas, sendo o corte basal horizontal a cerca de 1 cm abaixo do nó e o superior a cerca de 3 cm a 4 cm acima da última gema. As estacas podem ser colocadas diretamente nos saquinhos plásticos para enraizamento (Figura 5a), onde são introduzidas em torno de 15 cm de profundidade, ou serem colocadas para formação de calos em canteiros com uma camada de areia grossa, em lugares sombreados. Neste caso, coloca-se os feixes de estacas com as bases voltadas para baixo, deixando-se parcialmente cobertas com areia (Figura 5b), mantidas úmidas durante três semanas através de irrigações diárias para formação de calos. Após este período, as estacas são introduzidas parcialmente nos saquinhos com o substrato. Em ambos os casos, os saquinhos plásticos de polietileno preto perfurados devem ter 15 cm x 25 cm e serem encanteirados em viveiros com cerca de 50% a 60% de sombra até os primeiros 60 dias (Figura 6). Após este período, os canteiros podem ser descobertos totalmente para a aclimatação das mudas.
O substrato para o enchimento dos saquinhos deve ser preparado na proporção de 150 L de esterco de curral curtido para 850 L de terra de barranco livre de nematóide, caso o solo apresente baixos teores de matéria orgânica (< que 2,5%). A essa mistura deve-se acrescentar mais 1 kg de calcário dolomítico, 0,50 kg de superfosfato simples e mais 150 g de cloreto de potássio, se na análise de sólo der fósforo-resina (< 12 mg/dm-3), e potássio (<0,15 mmol dm-3). Se o solo apresentar baixos teores de boro (<1 mg/kg-1) deve se dar preferência para adubos fosfatados que contenham micronutrientes, inclusive B na formulação.
Fig. 5a. Estacas colocadas para enraizamento. (Foto: J.Dimas G.M.)
Fig. 5b. Feixes de estacas de porta-enxertos para formação de calos. (Foto: J. C. Nachtigal)

Fig. 6. Viveiro coberto com tela para formação das mudas. (Foto: J. Dimas G.M)
Espaçamento O espaçamento para a cv. Niágara Rosada conduzida no sistema de latada é menor que a recomendação para as uvas finas de mesa. O espaçamento entre linhas deve ser de 2,50 m a 3,0 m, com 1,50 m a 2,0 m entre plantas. Dentro destes intervalos, o espaçamento de 2,75 m x 2,0 m resulta em 1.900 plantas por hectare (Figura 7). Este espaçamento possibilita a mecanização por pequenos tratores e é adequado ao uso de irrigação por microaspersão, em função do raio de alcance dos microaspersores.

Fig. 7. Espaçamento (2,75 x 2,0 m) - Dois braços no mesmo sentido da rua. (Foto: J. Dimas G.M)
Preparo das covas
O preparo das covas deve ser efetuado pelo menos um mês antes do plantio dos porta-enxertos, seguido de irrigação, evitando-se, assim, possíveis danos às raízes durante o processo de decomposição do esterco. As covas devem ser abertas com enxadão e ter dimensões em torno de 50 cm x 50 cm x 50 cm; ou com sulcador, necessitando-se, neste caso, ajustar as dimensões com o enxadão. Em áreas com teor de matéria orgânica inferior a 2,5% aplicar 80 t/ha de esterco de bovinos, o que corresponde a cerca de 50 litros/cova no espaçamento de 2,50 m x 2,0 m. O mau preparo de covas leva à formação de plantas com estrutura deficitária, no que se refere ao número de varas por planta (Figura8), sendo necessário, neste caso, uma poda de reforma (Figura9) cerca de 45 dias após a aplicação de matéria orgânica enterrada em sulcos. Recomenda-se neste caso, o uso de esterco de galinha (10 a 15 t/ha). A falta de vigor na formação das plantas no primeiro ano seguido de poda de reforma no segundo faz perder uma safra.

Fig. 8. Planta mal formada, estrutura deficitária no 1º ano, falta de vigor. (Foto: J. Dimas G.M)

Fig. 9. Planta reformada, com boa estrutura no 2º ano. (Foto: J. Dimas G.M)
Plantio dos porta-enxertos
O sistema tradicional de implantação de novas parreiras de uva em regiões tropicais consiste no plantio dos porta-enxertos já enraizados no início do período chuvoso e realização da enxertia diretamente no campo no início do período seco seguinte. O plantio deve ser realizado preferencialmente nos meses de outubro a dezembro podendo ser dispensada a irrigação até 15 dias antes da enxertia em anos normais de precipitação, o que possibilitará a realização da enxertia madura em junho ou julho do ano seguinte. No caso da cv. IAC-766, o plantio deve ser realizado até o mês de novembro. Quanto mais cedo for o plantio do porta-enxerto, assim como a realização da enxertia em cada período, melhor será, porque assim será possível a formação das plantas ainda no período de poucas chuvas, quando a ocorrência de doenças é menor. Além desta vantagem, a enxertia mais cedo permite a realização das primeiras podas de produção já em março ou abril do ano seguinte, época adequada para o início das podas de produção. Durante o plantio, os saquinhos devem ser apoiados com uma das mãos e cortados com cuidado para não desmanchar o torrão, momento em que são eliminadas as pontas de raízes fora do torrão. Em seguida as mudas são passadas para a outra mão para a retirada do saquinho, fazendo-se uma leve compactação da terra adjacente ao torrão, sem desmanchá-lo. O plantio de estacas diretamente no campo não é recomendado devido à dificuldade em se obter bom pegamento, principalmente em áreas não irrigadas ou irrigadas inadequadamente.


Plantio de mudas prontas O plantio de mudas de raiz nua ou enxertadas no saquinho, deve ser feito, preferencialmente, nos meses de julho à agosto, para ter tempo suficiente para a formação das plantas e maturação dos ramos até o início do período seco do ano seguinte, época de inicio de podas de produção. Mudas prontas só devem ser adquiridas em viveiros registrados, com garantia de qualidade pelos órgãos de defesa sanitária vegetal do Estado. A irrigação é fundamental para garantir o pegamento desse tipo de mudas no período seco.
Construção da latada A latada deve estar pronta antes da época da enxertia, para evitar danos aos enxertos durante a sua construção. Deve-se utilizar materiais duráveis (madeira de eucalipto tratado ou postes de concreto; arames com galvanização pesada e alta resistência mecânica) para garantir boa longevidade da estrutura. O aramado deve ficar situado numa altura de 1,8 m a 1,9 m do solo para facilitar o trabalho de máquinas e de operários.
Passos para construção de uma latada: Demarcar os quatro cantos do parreiral.
Fincar os cantoneiros (palanques) no solo a 1,5 m de profundidade.
Colocar os três rabichos de quatro fiadas com arames n° 6 em cada cantoneiro a 1,5 m de profundidade, sendo os dois laterais posicionados na projeção do alinhamento das duas respectivas laterais e o terceiro no meio.
Esticar o fio de contorno, cordoalha de 7 fios, através de uma talha na altura preconizada e prendê-lo pelas presilhas.
Fincar os postes laterais a 0,70 m de profundidade, com as bases alinhadas no perímetro do parreiral, com seus respectivos rabichos de duas fiadas feitos com arames nº 8, posicionados nas projeções perpendiculares das respectivas laterais. Outra opção é usar chapas âncoras, tirantes, cordoalhas e alças pré-formadas com galvanização pesada e alta resistência mecânica . Se for usar a tela para cobrir o parreiral, os postes externos devem ser de 2,5 m e 3,0 m de comprimento, dispostos de forma alternada no contorno da latada. Neste caso, são necessários postes de 3 m para esticar os arames que sustentarão a tela.
A ordem de colocação dos arames é a seguinte: primeiro coloca-se arames n° 12, ou ovalado com bitola de 2,4 m x 3,0 m e galvanização pesada, no mesmo sentido da rua. Depois, os porta fios com arames n° 12 ou ovalado, com bitola de 2,4 m x 3,0 m e galvanização pesada, sobre os anteriores, no sentido perpendicular ao da rua, para sustentar os de n° 14 comum ou de 2,10 m de bitola, no mesmo sentido da rua, os quais sustentarão as varas.
Independente do espaçamento entre plantas, os arames da malha simples sempre serão esticados na cordoalha externa, passando-os por cima de todos os arames que cruzam a latada no sentido perpendicular, deixando-se uma distância entre eles de 30 cm a 35 cm. Esta distância visa facilitar a grampeação dos ramos.
Amarrar os arames da malha fina nos pontos sobre os arames porta fios, através de arame n° 18, objetivando-se mantê-los eqüidistantes, para não haver aglomeração dos mesmos durante a retirada do material de poda. Em áreas onde há riscos de granizo, ataque de pássaros, é necessário a cobertura do parreiral com tela de polietileno especial, com aditivos anti-raios ultravioletas e 18% de sombreamento.
Para colocar a tela é necessário fixar os balancins de 1,5 m x 0,03 m x 0,04 m em todos os postes internos, onde serão esticados e fixados em suas extremidades superiores os fios n° 14 ou com 2,10 m de bitola, galvanização pesada, abaixo e acima da tela, nos dois sentidos, e amarrados na cabeça dos postes de três metros para a sustentação da mesma. A tela deve ficar posicionada a 1,0 m acima do aramado.

Fig. 10. Sistema de condução em latada, coberto com tela antigranizo. (Foto: J. Dimas G.M.)

Fig. 10b. Demonstração de um croqui simplificado para a construção de uma latada para o espaçamento de 2,75 m x 2,0 m. No croqui está representado a colocação dos postes, dos arames, assim como o sentido das ruas e dos braços. (Ilustração: J. Dimas G.M.)
Condução dos porta-enxertos Os porta-enxertos devem ser tutorados em um sarrafo posicionado verticalmente onde são conduzidos três a quatro ramos por planta, até o aramado (Figura11). Durante a condução dos ramos é necessário fazer o desnetamento (retirada de brotos laterais ainda jovens). O tutoramento visa possibilitar a obtenção de troncos eretos, o que melhora a estética das plantas e possibilita o uso de implementos tipo roçadeira em uma faixa maior nas entrelinhas. Os tutores podem ser de madeira (sarrafos de 3,0 cm x 3,0 cm x 3,0 cm), ou de bambu seco e ter vida útil mínima de dois anos.
Fig. 1. Plantas de porta-enxertos tutoradas. (Foto: J. Dimas G.M)
Enxertia
Para a formação das copas utiliza-se o método de enxertia garfagem simples, aérea, diretamente no campo, podendo ser com ramos verdes ou maduros. Na figura 12 estão apresentados os materiais para a enxertia verde (herbácea) e madura (lenhosa). Os garfos devem ser cortados com uma gema e ter 4 cm a 5 cm de comprimento, sendo 1,5 cm acima e o restante abaixo da gema. Na base do garfo devem ser feitos dois cortes com um canivete afiado começando a 1 cm abaixo da gema, despontando-se na parte central da base, e dando um formato de cunha. No preparo dos garfos, elimina se gavinhas e pecíolos. No campo escolhe-se os dois melhores ramos do porta-enxerto, os quais são podados cerca de 40 cm a 50 cm do solo. Em suas extremidades faz-se outro corte a 5 cm acima do último nó onde, então, na parte central é feita uma fenda vertical de 2 cm de comprimento, onde será encaixada a cunha do garfo. A cunha do garfo deve ser introduzida totalmente dentro da fenda, justapondo-se suas superfícies, pelo menos de um lado. Em seguida cobre-se o enxerto com uma fita plástica de 2 cm de largura, iniciando-se a 1 cm abaixo da extremidade da cunha, seguindo-se o contorno do enxerto com uma leve pressão, exceto a gema, até o topo do garfo onde é vedado, retornando em direção ao início, onde é presa a extremidade da fita. Tanto na enxertia verde como na enxertia madura é necessário que os porta-enxertos apresentem bom vigor, que haja bom fluxo de seiva, boa justaposição dos tecidos e boa cobertura do garfo, exceto a gema.
Fig. 12. Materiais necessários para a realização da enxertia verde e madura. (Foto: J. Dimas G.M)
Enxertia madura Para a enxertia do tipo madura (com ramo lenhoso), utiliza-se garfos e ramos lignificados com diâmetros semelhantes. Os ramos maduros devem ser retirados com idade de 6 a 8 meses após a ultima poda, em plantas sadias, podendo ser utilizados imediatamente ou conservados até a data de enxertia, através da estratificação em areia grossa úmida por até três semanas, ou em câmaras frigorificadas (T = 5°C, U.R =95%), por até um ano. Durante a enxertia devem ser obtidos ou selecionados, bacelos com espessura de 0,7 cm a 1,2 cm de diâmetro com uma gema intacta, para a realização de dois enxertos por planta a uma altura de cerca de 50 cm do solo (Figura 13). A enxertia deve ser realizada nos meses de junho a agosto, época quando se tem menos problemas com doenças na formação da planta. Entretanto, o sistema de irrigação já deve estar instalado e as plantas estarem sendo irrigadas a pelo menos três semanas antes do início da enxertia. A brotação pode demorar de 20 a 75 dias, dependendo da temperatura ambiente, variedade de porta-enxerto e se o material foi utilizado imediatamente ou passou por conservação em areia ou câmaras frigoríficas. A brotação no IAC 766 pode demorar até 75 dias nos meses de maio, junho e julho (Figura 14) . A brotação muito rápida não é desejável, pois pode ocorrer antes da formação do calo entre os tecidos do porta-enxerto e do enxerto, levando à morte precoce do broto. Em enxertos maduros, logo após a cicatrização, é necessário afrouxar a fita para que não haja estrangulamento do caule, através de um corte no ponto onde se prendeu a ponta da fita.
Fig. 13. Enxertia madura. (Foto: J. Dimas G.M.)
Fig. 14. Brotação de enxerto maduro sobre o IAC 766 aos 75 dias. (Foto: J. Dimas G.M.)
Enxertia verde
Para realizar a enxertia herbácea ou verde os garfos e os ramos do porta-enxerto devem estar verdes, firmes, não muito jovens, tão pouco em início de maturação, com espessura de 0,7 cm a 1,0 cm. Os garfos devem ser colhidos de ramos com 40 a 60 dias após a poda na porção intermediária, entre a quarta e a décima segunda gema, podendo ser utilizados imediatamente ou conservados em geladeiras por cerca de uma semana dentro de sacos de plástico bem fechados e úmidos. A enxertia verde pode ser feita em qualquer época do ano. É conveniente, porém que seja o mais cedo possível, ou seja, assim que for constatado o fracasso da enxertia lenhosa, ainda no período seco. Neste caso são deixados três brotos no tronco do porta-enxerto, os quais são tutorados para a realização de dois enxertos. A enxertia verde no período de chuvas exige um programa rigoroso de controle de doenças, principalmente de míldio, havendo necessidade da aplicação de fungicidas sistêmicos para garantir a sanidade das plantas em formação. O pegamento do enxerto verde, utilizando-se filme de PVC para cobrir o garfo, pode alcançar índices acima de 95%. Neste caso cobre-se totalmente o garfo, exceto a gema (Figura15). Em regiões onde as temperaturas máximas diárias excedem a 35°C é necessário cobrir os enxertos com saquinhos de papel contra a radiação solar por 5 a 7 dias. O início da brotação ocorre cerca de 8 a 10 dias após a enxertia (Figura16). Após a cicatrização do enxerto verde há necessidade de cortar a extremidade do garfo acima do broto, pois nesta posição o filme de PVC não se desprende por si só após a cicatrização (Figura17).

Fig. 15. Enxertia verde, com filme de PVC, uma gema. (Foto: J. Dimas G.M.)
Fig. 16. Brotação do enxerto verde (8 a 10 dias após a enxertia). (Foto: J. Dimas G.M.)
Fig. 17. Enxerto verde realizado com filme de PVC, após cicatrização. (Foto: J. Dimas G.M.)
Formação das plantas Esta é uma etapa muito importante porque é nesta fase que se forma a estrutura da planta. Após a brotação dos enxertos, seleciona-se o melhor, o qual é conduzido até atingir o aramado da latada. Quando o enxerto ultrapassar cerca de 30 cm acima do aramado ele é despontado na altura do aramado para iniciar a formação dos braços. Antes do broto atingir o aramado, todos os brotos laterais ou netos que surgem do principal são retirados, exceto os dois últimos imediatamente abaixo do aramado, os quais são deixados para a formação dos braços. Estes dois brotos deixados serão grampeados em sentidos opostos, podendo ser no mesmo alinhamento da rua (sistema A) ou perpendicular a mesma (sistema B). O comprimento dos braços terá a metade do espaçamento entre plantas se conduzidos no sistema A (Figura 18) ou a metade do espaçamento entre ruas se no sistema B (Figura9). O desponte dos brotos (futuros braços), deve ser realizado quando ultrapassar cerca de 30 cm da metade dos espaçamento. O sistema de formação (A) apresenta as seguintes vantagens em relação a formação (B): menor gasto de mão-de-obra para realizar a poda madura, a massagem das varas, a aplicação de dormex, a desbrota, a grampeação, e para a poda verde (desbrota, desponte, desfolha, etc.), além de possibilitar a aplicação de produtos mais dirigidos aos cachos e proporcionar melhor distribuição espacial das varas sobre o aramado, o que melhora o aproveitamento da radiação solar e exposição das folhas e cachos aos produtos pulverizados. No sistema B , é possível obter ao redor de 45.0 varas/ha já no primeiro ano, porém demanda mais mão-de-obra que o sistema A. No sistema A é possível obter cerca de 25.0 a 30.0 varas por hectare no primeiro ano, porém nos ciclos seguintes de formação (poda curta), o número deve ser aumentado para cerca de 50.0 varas por hectare, deixando-se em cada lado na extensão dos braços: uma, duas, uma, duas, varas, de forma alternada, ou seja: 1,2,1,2,1,2, e assim por diante.

Fig. 18. Sistema de formação A. (Foto: J. Dimas G.M.)

Fig. 19. Sistema de formação B. (Foto: J. Dimas G.M.)
Poda e Quebra de Dormência
Em regiões tropicais, onde as temperaturas mínimas raramente baixam para valores inferiores a 10°C, é necessário realizar duas podas anuais objetivando controlar os ciclos vegetativos da videira, uma vez que a planta não hiberna. As podas da videira podem ser madura (longa, curta ou mista), ou verde, que consiste de todas as operações de retirada de partes verdes da planta (melhor descrição no item poda verde).
Poda madura
A poda madura é realizada quando os ramos estão lignificados, com idade de 5,5 a 7 meses após a última poda. Há três possibilidades de podas na cv. Niágara Rosada quanto ao comprimento: curta ou de formação, com 2 a 3 gemas (Figura 1), longa ou de produção, com 6 a 8 gemas (Figura 2) e mista (Figura 3), quando é realizado no mesmo ciclo, a poda curta e a longa para produção e formação dos ramos na mesma planta, no mesmo ciclo. Do ponto de vista da produção e da formação de ramos na mesma planta, o melhor sistema é o que combina uma poda curta de formação, alternada com uma poda longa de produção, devendo esta última ser programada para a produção na entressafra. Este sistema permite a obtenção de 30 t/ha/ano, deixando-se ou não, uma safrinha no ciclo de formação (poda curta). Os sistemas de produção com ciclos sucessivos de poda curta ou de poda mista não é adequado, pois a produtividade destes sistemas é menor na entressafra do que o sistema de poda longa e poda curta, alternado.
Fig. 1. Poda curta com duas a três gemas para formação de ramos. (Foto: J. Dimas G.M.)
Fig. 2. Poda longa com sete a oito para produção - 7 a 8 gemas. (Foto: J. Dimas G.M.)
Fig. 3. Poda mista (curta e longa). (Foto: J. Dimas G.M.)
Época de poda
Considerando a variação de preços e oferta de uva Niágara Rosada ao longo do ano, e a possibilidade de entradas de massas de ar frio em determinados períodos do ano em algumas regiões, há duas situações distintas quanto à época de podas: em regiões onde não há limitações pelo frio, ou seja, onde as temperaturas mínimas não caem abaixo de 15ºC, a poda longa deve ser realizada no período de 01de março a 20 de julho, sendo o período ideal de 01 de abril a 15 de julho, neste caso, a poda curta é programada para o período de 15 de agosto a 31 de dezembro; já em regiões onde há limitações pelo frio, ou seja, onde as temperaturas mínimas caem para valores inferiores a 15°C, a poda longa deve ser programada para o período de 01 de março a 20 de abril ou de 01 a 20 de julho. Neste caso a poda curta seria programada para o período de 15 de agosto a 20 de setembro para o primeiro intervalo e de 15 de dezembro a 15 de janeiro para o segundo intervalo, respectivamente, Estas são as épocas mais adequadas às podas, para ambas situações, objetivando-se diminuir os riscos de má brotação e obter melhores preços na entresafra nos grandes mercados atacadistas, como CEAGESP, e mercados dos estados da região Sul do Brasil. Se a produção for pequena e destinada a mercados regionais, as épocas de podas podem ser ajustadas de acordo com essa demanda. A cv. Niágara Rosada é sensível ao frio, portanto é necessário ficar atento às previsões meteorológicas de médio prazo, principalmente em relação ao fenômeno La Ninã, o que condiciona invernos mais intensos.


Quebra de dormência
A brotação da cv. Niágara Rosada é prejudicada em regiões onde a entrada de massas de ar frio provoca queda da temperatura para valores inferiores a 15°C. Em condições normais de temperatura (TºC mínima >18°C), a aplicação de cianamida hidrogenada a 3,64% por imersão das gemas após a massagem de varas tem apresentado bons resultados (Figura 4). Esta dosagem, porém, não é suficiente para superar os efeitos negativos do frio, onde a temperatura mínima atinge valores inferiores a 15ºC, durante ou logo após a poda (Figura 5). Dosagens maiores, de até 5,20% de cianamida hidrogenada, já foram usadas por produtores na região noroeste paulista em uma ou duas aplicações seguidas, porém sem sucesso. As baixas temperaturas têm sido prejudiciais, tanto na quebra de dormência quanto no desenvolvimento dos brotos (Figura 6). Quando o frio prejudica a brotação no ciclo de poda longa e, consequentemente poucas gemas brotam nas extremidades das varas (Figura 7), uma solução é refazer a poda assim que terminar o frio, eliminando-se a porção terminal das varas e repetir a aplicação de cianamida hidrogenada nas últimas três gemas intactas. A quebra de dormência de gemas de ramos com seis a sete meses de idade, em épocas ou regiões que não ocorrem a queda da temperatura mínima para valores inferiores a 18 °C pode ser feita com dosagens de 2,10% de cianamida hidrogenada, sem massagens das varas. A aplicação do produto pode ser feita através de um tubo de plástico, pulverizador costal manual ou com pincel. A aplicação por imersão, através de tubo plástico (Figura 8), apresenta as seguintes vantagens em relação aos outros sistemas de aplicação: economia de produto, aplicação do produto somente nas gemas onde se deseja a brotação e menor risco para o aplicador. Para aplicar o produto por imersão, no ciclo de poda longa, um operário vai soltando as varas do aramado após a poda, passandoas para baixo, ao mesmo tempo em que é feita a massagem nas últimas 4 gemas, ou seja, uma leve torção nos entrenós da vara onde se deseja a brotação. Na seqüência, outro operário faz a imersão das últimas 4 gemas da vara na solução. Em seguida, as varas são retornadas à posição original sobre o aramado onde serão grampeadas. No ciclo da poda curta, a aplicação pode ser feita com pulverizador costal manual ou com pincel adaptado, feito de espuma ou de sisal, (Figura 9). A aplicação deve ser feita, no máximo, em 48 h após a poda, devendo o aplicador tomar o cuidado de não ingerir bebida alcoólica durante 24 h antes ou depois da aplicação. A aplicação não deve ser realizada em períodos inferiores a 2 h que antecede as chuvas, pois diminui a eficácia da aplicação. Quando possível deve ser evitado também as horas mais quentes do dia quando a evaporação é muito rápida.
Para melhorar a brotação da videira quando as podas são realizadas nos meses de abril, maio, junho e julho na região sudeste, pode se usar o ethrel 240® (9 L/ha) ou ethrel 720® (3 L/ha) cerca de 15 a 25 dias antes da poda. A aplicação deve ser feita com 1000 L de água/ha quando as plantas estiverem com mais de 50 % de folhas para absorção do produto e ramos com 5,5 a 6 meses de idade. A aplicação do produto promove o amarelecimento das folhas e queda das mesmas. A poda e a aplicação do dormex é realizada quando ocorrer a queda de cerca de 80 a 90 % de folhas, momento em que as gemas encontram-se inchadas, antes do ponto de 'algodão', pois neste estádio, o produto pode queimar as gemas. Em áreas onde se usar o ethrel, o dormex® deve ser usado na dosagem de 6,0 %.
Fig. 4. Brotação normal após a massagem, e aplicação de cianamida hidrogenada a 3,64%. (Foto: J. Dimas G.M.)
Fig. 5. Brotação deficitária devido a baixas temperaturas após a poda. (Foto: J. Dimas G.M.)

Fig. 6. Paralisação do crescimento do broto devido a baixas temperatura. (Foto: J. Dimas G.M.)
Fig. 7. Varas com brotação deficitária devido a frio, sujeitas a repoda. (Foto: J. Dimas G.M.)
Fig. 8. Tubo para aplicação de cianamida hidrogenada. (Foto: J. Dimas G.M.)
Fig. 9. Haste de sizal para aplicação de dormex. (Foto: J. Dimas G.M.)
Poda verde A poda em verde consiste de várias práticas indispensáveis para se obter bons ramos produtivos e uvas de boa qualidade. Na cv. Niágara Rosada consta de: desbrota (retirada de brotos fracos, mal posicionados ou em excesso), quando os brotos estiverem com cerca de 15 cm a 20 cm de comprimento; desfolha (retirada de folhas opostas aos cachos), em brotos com cachos quando as bagas estiverem no estádio de 'ervilha'; desponte apical (retirada de cerca de 1 cm no ápice do broto, estádio fenológico n° 15 de acordo com Eichom & Lorenz (Figura 10), na véspera do florescimento; desponte terminal (retirada de cerca de 20 cm a 30 cm na ponta do ramo); retirada de gavinhas; desbaste de cachos (retirada de cachos pequenos e ou em excesso ). A poda verde melhora a aeração e a insolação nos ramos, e, também a eficácia dos tratamentos fitossanitários na formação da planta e em todos os ciclos conforme é detalhado abaixo.
Fig. 10. Poda verde- ciclo de produção, desponte apical. (Foto: J. Dimas G.M.)
Na formação das plantas
Durante o crescimento do broto do enxerto, faz-se a retirada de brotos laterais (netos), exceto os dois últimos logo abaixo do aramado, os quais serão deixados para a formação dos dois braços. Nestes dois brotos são deixados todos os brotos laterais (netos) para a formação das primeiras varas de produção. Na condução destes brotos, futuras varas de produção, é realizada: a retirada de brotos laterais (netos ou feminelas, Figura 1), ainda jovens, de gavinhas, e é feito o desponte terminal das varas quando estiverem com 1,60 m de comprimento (Figura 12). Se ocorrer a brotação da última gema, este broto originado deve ser despontado com três a quatro folhas. Outra possibilidade para conter o crescimento é deixar o último neto ao se realizar o desponte terminal, sendo este despontado com cinco folhas (Figura 13).

Fig. 1. Poda verde- retirada dos netos ou feminelas. (Foto: J. Dimas G.M.)

Fig. 12. Poda verde - ciclo de formação, desponte terminal. (Foto: J. Dimas G.M.)
Fig. 13. Ramos despontados duas vezes para conter o crescimento. (Foto: J. Dimas G.M.)
Nos ciclos de produção (poda longa)
A poda verde neste ciclo consta de: desbrota (deixar dois brotos por vara); retirada de gavinhas; desfolha (retirada de duas a três folhas basais logo após o pegamento dos frutos, principalmente as opostas aos cachos); desponte apical dos brotos com cachos na véspera do florescimento e desnetamento após o florescimento, desbaste de cachos (deixar dois cachos por ramo). O objetivo do desponte apical de brotos é melhorar o pegamento de frutos para obter cachos mais compactos, com maior peso e melhor padrão. Após o pegamento dos frutos, deve-se deixar dois cachos por broto eliminando-se o menor. Após o pegamento dos frutos deve-se deixar o último neto desenvolver para aumentar o número de folhas no broto, sendo este despontado com 5 a 6 folhas, resultando em 13 a 16 folhas por ramo (Figura 14).

Fig. 14. Poda verde - dois despontes no broto com cacho. (Foto: J. Dimas G.M.)
No ciclo de formação (poda curta)
Neste ciclo faz-se a desbrota, desnetamento, retirada de folhas basais dos brotos com cachos (desfolha), e desponte terminal, quando as varas estiverem com cerca de 1,50 m a 1,60 m. Durante a desbrota deixa-se 60.0 brotos por hectare, objetivando-se, no final cerca de 50.0 a 5.0 varas por hectare. Neste sistema preconiza-se retirar todos cachos neste ciclo vegetativo, objetivando-se obtenção de varas com maior espessura para produção no ciclo de poda longa. Caso o produtor decida por uma safrinha, deve deixar somente um cacho por broto, porque se deixar todos os cachos, a espessura dos ramos após o último cacho é reduzida ocasionando menor produção e tamanho de cachos no ciclo seguinte.
Retirada de brotos ladrões Consiste na retirada de brotos dos troncos no porta-enxerto, e é realizada quando os brotos ainda estão jovens, quando são mais fáceis de retirar. Os brotos ladrões (Figura 15), além de prejudicar a variedade copa da videira, tornam as plantas sujeitas a fitotoxidez por herbicidas, como é o caso da intoxicação por glifosato (Figura 16).
Fig. 15. Ramos ladrões nos troncos. (Foto: J. Dimas G.M.)
Fig. 16. Fitotoxidez causada por aplicação de glifosato nas folhas. (Foto: J. Dimas G.M.)
Abaixamento de cachos
O abaixamento de cachos deve ser feito quando a uva estiver entre os estádios de 'chumbinho e de 'ervilha', quando, então, são liberados de arames, ramos, ou pecíolos. Na figura 36, observa-se cachos presos à arames, não abaixados, o que provoca perdas durante a colheita.

Fig. 17. Cachos de 'Niágara Rosada' presos à arames. (Foto: J. Dimas G.M.)
Adubação da Videira Niágara Rosada
Adubações Sugere-se dois tipos principais de adubação: a de correção, efetuada antes do plantio, e a de manutenção, realizada durante a vida produtiva da planta. A primeira é feita para corrigir a fertilidade do solo para padrões preestabelecidos, e a segunda é realizada para repor os elementos absorvidos pela planta durante o ano.
Calagem Tem como finalidade eliminar prováveis efeitos tóxicos dos elementos que podem ser prejudiciais às plantas, tais como alumínio e manganês, e corrigir os teores de cálcio e magnésio do solo. Para a videira, o pH do solo deve estar próximo de 6,0. Na maioria dos estados brasileiros onde a cv. "Niágara Rosada" é plantada, utiliza-se a saturação de bases (T) como o índice indicador da necessidade de calagem. Recomenda-se usar a saturação de bases de 80 % para corrigir o solo. Deve-se dar preferência ao calcário dolomítico (com magnésio), sendo que o mesmo deve ser aplicado em toda a área, pelo menos, 3 meses antes do plantio.
Adubação de correção Como o nome já diz, é feita para corrigir possíveis carências nutricionais. Nela procura-se corrigir principalmente os teores do fósforo e do potássio.
Os indicadores da disponibilidade de K e P para a maioria dos solos do Brasil é o
Mehlich 1, sendo também utilizado resina aniônica e catiônica (Estado de São Paulo). A quantidade de nutriente a ser aplicada baseia-se em análise de solo e segue-se a Tabela 1. Os fertilizantes devem ser aplicados 10 dias antes do plantio e distribuídos em toda área.
As fontes utilizadas para fósforo são os superfosfatos, enquanto que para o potássio recomenda-se o uso do cloreto de potássio ou sulfato de potássio.
Tabela 1. Adubação de correção. P Resina (mg dm-3) K trocável (mmol dm-3)
A adubação com micronutrientes se faz necessária apenas com o boro (B), pois os outros micronutrientes são fornecidos via fungicidas. O boro é um micronutriente extremamente importante para a videira, especialmente para a cv. Niágara Rosada, em que sua deficiência causa má fecundação, condicionando a formação de cachos ralos e mal formados. Normalmente os teores de B (extraído com água quente) do solo estão abaixo de 0,6 mg kg-1. Nesta situação, recomenda-se aplicar 10 kg ha-1 de B. Os fertilizantes mais utilizados na correção de B e suas respectivas dosagens estão na Tabela 2.
Tabela 2. Fertilizantes boratados utilizados para correção da deficiência de boro.
Teor Aproximado
Quantidade a aplicar Material Fórmula química g kg-1 Kg ha-1
Época de Aplicação
Modo de Aplicação
Ácido
Bórico H3BO3 175 57 Preparo do solo Toda área
Bórax Na2B4O7.10H2O 115 87 Preparo do solo Toda área
Colemanita Ca2B6O11.5H2O 150 67 Preparo do solo Toda área
Ulexita NaCaB5O9.8H2O 100 100 Preparo do solo Toda área
Boro
Solúvel Na2B8O13. 4H2O 205 49 Preparo do solo Toda área
A aplicação de boro, em formulações com adubos fosfatados e/ou potássicos, facilita a aplicação e melhora sua distribuição no solo.
Quando por algum motivo o produtor não fez a correção do solo com boro, recomenda-se duas aplicações via foliar, sendo a primeira antes do florescimento e a segunda quando as bagas apresentem tamanho de chumbinho, utilizando-se solução 0,05 % de boro. As fontes de B mais recomendadas são ácido bórico, bórax e boro solúvel.
Adubação de formação das plantas Esta adubação tem a finalidade de fornecer nutrientes às plantas no período que vai do plantio até o início da produção. Utiliza-se fertilizantes químicos à base de adubos orgânicos e nitrogênio.
Em solos com menos de 25 g kg-1 (2,5%) de matéria orgânica recomenda-se a aplicação de esterco de bovinos, na dose 80 t ha-1, que deve ser colocado no fundo das covas das plantas e bem misturado com o solo.
Após a enxertia, durante a formação da planta, faz-se a adubação nitrogenada, sendo que a quantidade de nitrogênio anual a ser aplicada está relacionada com o teor de matéria orgânica do solo, seguindo-se a Tabela 3. Esta adubação deve ser parcelada em até cinco vezes.
Tabela 3. Adubação nitrogenada de formação da planta. Matéria Orgânica Dose de Nitrogênio

Adubação de Manutenção Tem a finalidade de repor os nutrientes que são exportados na forma de frutos. A recomendação é feita na expectativa da produtividade de 30 t ha-1. As doses e épocas de aplicações estão na tabela 4. Complementando a adubação de manutenção, deve-se aplicar, 10 dias antes da poda, 30 t ha-1 de esterco bovino.
Tabela 4. Doses de fertilizantes recomendadas para a videira "Niágara" para atingir produtividade de 30 t ha-1.
Poda de Formação

Poda de Produção
Época Nitrogênio Fósforo (P2O5) Potássio (K2O) Esterco Bovino --------------- kg ha-1 --------------- --- t ha-1 ---- 10 dias antes da poda - 96 - 30 10 dias após a poda 72 - - - 30 dias após a poda 36 96 - - 45 dias após a poda 12 - 48 - 60 dias após a poda - - 48 - 80 dias após a poda - - 60 - Total 120 192 156 30
Manejo de Plantas Daninhas Introdução
As plantas daninhas não são, em sua totalidade, prejudiciais a videira. Há espécies menos competitivas que podem ser admitidas nas áreas, podendo ajudar na reciclagem de nutrientes, promovendo a cobertura do solo, diminuindo a erosão, além de servir como abrigo de inimigos naturais. Algumas espécies são extremamente competitivas e disseminam muito rápido como é o caso da grama seda (Cynodon dactylon L.) Pers., tiririca (Cyperus rotundus L.), capim colonião (Panicum maximum Jacq.), braquiarias (Braquiaria spp.), corda de viola (Ipomoeia sp), as quais necessitam ser erradicadas da área. Outras espécies menos competitivas podem até conviver com a cultura nas entrelinhas, no período chuvoso, porém necessitam ser roçadas a cada 20 a 30 dias. O controle de plantas daninhas é realizado objetivando-se diminuir a competição com a videira por água, luz, e nutrientes ou visando a eliminação das espécies mais competitivas.
Controle cultural
Consiste em evitar a introdução de espécies competitivas na área do vinhedo. Essa introdução pode ocorrer via plantio de mudas infestadas; estercos com sementes, estolhos ou tubérculos; ou através de implementos usados em áreas infestadas. Neste último caso o implemento deve ser lavado antes de iniciar o trabalho na nova área. A eliminação de plantas daninhas nas margens de carreadores e em áreas ociosas adjacentes ajudam a diminuir as fontes de infestação.
Controle físico
Usar cobertura morta, como restos de palhas secas de cana ou de napier, casquinha de algodão, bagaço de cana, e palhas de braquiária. Estes materiais, além de diminuir a incidência de plantas daninhas, proporcionam aumento no teor de matéria orgânica no solo, aumentam a conservação da umidade no solo, e diminui os riscos de erosão. Outra possibilidade para a cobertura do solo é o plantio de leguminosas nas entrelinhas, fazendo a cobertura verde. Neste caso a leguminosa deve ser roçada antes que suas sementes estejam maduras fisiologicamente. A espécie para este fim deve ter hábito de crescimento determinado, e ter ciclo anual. A mucuna anã pode ser usada para este fim. Esta espécie chega a incorporar cerca de 50 kg/ha/ano de nitrogênio, 4 a 5 t/ha de matéria seca, além de ter efeitos alelopáticos contra nematóide e tiririca.



Controle quimico
O uso de herbicidas deve ser feito preferencialmente no final do ciclo. Deve-se evitar o uso de herbicidas durante os dois primeiros anos de cultivo, porque os riscos de fitotoxidez são maiores. O controle químico pode ser feito com produtos registrados para a cultura listados na Tabela 1, sendo os mais utilizados glifosato e paraquat. Glifosato - É um herbicida pós-emergente, sistêmico que controla folhas largas e estreitas. A dosagem recomendada é em função das espécies mais tolerantes presentes na área, podendo variar de 0,48 a 2,8 kg de i.a /ha-1. A aplicação nas linhas requer a retirada antecipada dos brotos ladrões no tronco cerca de 5 dias antes da aplicação, para evitar fitotoxidez. Paraquat - É um herbicida pós-emergente, não seletivo que controla a maioria das plantas daninhas anuais, principalmente com altura entre 15 cm a 20 cm, na dosagem de 2,0 kg de i.a./ha-1. Este produto requer cuidado especial quanto a deriva, para tanto deve ser aplicado nas horas sem vento.
Herbicidas não registrados para a videira
A aplicação de produtos não registrados para a videira pode causar sérios danos à planta como a base de halosulfuron (Figura 2), e de 2,4, D (Figura 3). Os herbicidas registrados para a cultura da videira estão apresentados na Tabela 1.

Fig. 1. Sintomas de fitotoxidez causado por halosulfuron. (Foto: J. Dimas G.M.)

Fig. 2. Sintomas de fitotoxidez causada por 2,4-D. (Foto: J. Dimas G. M.)
Em termos gerais, o controle, e, ou, manejo de plantas daninhas no vinhedo pode ser feito de várias maneiras: Uso de herbicidas nas linhas de plantio, e de roçadeiras nas entrelinhas (Figura 39);
Capinas manuais nas linhas e roçadeiras nas entrelinhas (Figura 40);
Capina manuais nas linhas e cobertura morta nas entrelinhas ;
Área totalmente limpa (em solos de textura arenosa, bastante sujeitos a erosão, não deve ser adotado).

Fig. 3. Herbicida nas linhas e roçadeira nas entrelinhas. (Foto: J. Dimas G.M.)
Fig. 4. Capinas nas linhas e roçadeiras nas entrelinhas. (Foto: J. Dimas G. M.)
Tabela 1. Herbicidas registrados para a cultura da videira (2003). Nome Ingrediente Ativo Classe Class. Registrante
Comercial Toxicológica Amb Agrisato 480 CS Glifosato IV I Alkagro do Brasil Ltda
Cention SC Diurom I * Bayer CropScience Ltda.
Direct Glifosato IV I Monsanto do Brasil Ltda.
Diurex Agricur
500SC Diurom I * Agricur Defensivos Agrícolas Ltda.
Diuromex Diurom I * Sipcam Agro S.A. Diuron Nortox Diurom I I Nortox S.A.
Finale Glufosinato-sal de amônio I I Bayer CropScience Ltda.
Glifosato Nortox Glifosato IV I Nortox S.A.
Glifosato 480
Agripec Glifosato IV I Agripec Química e Farmacêutica S.A.
Gliz Br Glifosato IV I Dow AgroSciences Industrial Ltda.
Gliz 480 CS Glifosato IV I Dow AgroSciences Industrial Ltda.
Gramocil Diurin + dicloreto de paraquate I I Syngenta proteção de Cultivos Ltda.
Gramoxone 200 Dicloreto de paraquate I I Syngenta proteção de Cultivos Ltda.
Herbazin 500
BR Simazina I * Milenia Agro Ciências S.A.
Herbipak 500
BR Ametrina I * Milenia Agro Ciências S.A.
Herburon Diurom I * Milenia Agro Ciências S.A
Polaris Glifosato IV I Du Pont do Brasil S.A.
Radar Glifosato IV I Monsanto do Brasil Ltda.
Roundup
Original Glifosato IV I Monsanto do Brasil Ltda.
Roundup WG Glifosato IV I Monsanto do Brasil Ltda.
Rustler Glifosato IV I Monsanto do Brasil Ltda.
Stinger Glifosato IV I Monsanto do Brasil Ltda.
Surflan 750 BR Orizalina I * Dow AgroSciences Industrial Ltda.
Touchdown Sulfosato IV I Syngenta Proteção de Cultivos Ltda.
Doenças e seu Controle
Introdução
A cv. Niágara Rosada, quando cultivada em condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento de patógenos durante o período vegetativo, está sujeita a uma série de doenças, que podem ocorrer em todas as partes da planta, como raízes, troncos, ramos, folhas, brotos e cachos. Algumas dessas doenças, de natureza fúngica ou virótica, provocam grandes perdas e, frequentemente, tornam-se fatores limitantes ao cultivo, se medidas de controle adequadas não forem adotadas. Dentre as doenças fúngicas que ocorrem na cv. Niágara Rosada em regiões tropicais, destacam-se o míldio ou mofo (Plasmopara viticola), a requeima foliar (Alternaria sp.), a ferrugem (Phakopsora euvitis). Outras doenças como: antracnose ou varola (Elsinoe ampelina), podridões dos cachos e manchas das folhas podem causar perdas em regiões de clima tropical mais úmido. Além das doenças fúngicas, as viroses também podem causar sérios prejuízos aos viticultores.
Doenças Fúngicas
Míldio - Plasmopara viticola É a principal doença fúngica da cv. Niágara Rosada em áreas tropicais, podendo infectar todas as partes verdes da planta, sendo que os danos são maiores quando ataca os frutos.
Sintomatologia: Nas folhas, inicialmente aparecem manchas amarelas, translúcidas contra o sol, denominadas de "mancha de óleo" (Figura 1a). Nessas manchas, em condições de umidade relativa alta (acima de 98%), aparece um mofo branco na parte inferior das folhas (Figura 1b) e, em seguida, a área afetada fica necrosada. Nas inflorescências, observa-se escurecimento do ráquis, onde pode ocorrer esporulação do fungo. As inflorescências infectadas secam e caem. Nos cachos, após o pegamento, as bagas jovens ficam amareladas, onde também pode ocorrer esporulação (Figura 1c). Quando o fungo infecta as bagas mais desenvolvidas, ele penetra pelos pedicelos e se desenvolve no seu interior, tornando-as escuras, duras, com superfícies deprimidas e sem esporulação, o que provoca a sua queda. Esse sintoma é denominado de "míldio larvado" (Figura 1 d) e é comum quando a produção coincide com o período de chuvas. Sem um bom esquema de tratamento nesta fase, o míldio pode causar perdas de até 100%, com degrana e queda de bagas (Figura 1e).
Fig. 1a. Sintoma de míldio na face superior da folhas - 'mancha óleo'. (Foto: J. Dimas G.M.)

Fig. 1b. Sintoma de míldio na face inferior da folha - esporulação do fungo. (Foto: J. Dimas G.M.)
Fig. 1c. Sintoma de míldio em cacho com bagas no estádio 'chumbinho'. (Foto: J. Dimas G.M.)

Fig. 1d. Sintomas de míldio no cacho - 'míldio larvado'. (Foto: O.R.Sônego)

Fig. 1e. Queda de bagas devido ao míldio 'larvado'. (Foto: O.R.Sônego)
Condições predisponentes: A temperatura ideal para o desenvolvimento do míldio é de 18°C a 25°C. O fungo necessita de água livre nos tecidos por um período mínimo de 2 horas para infectar. A presença de água livre, seja proveniente das chuvas, de orvalhos (Figura 2) ou de gutação, é indispensável para haver a infecção, sendo que para haver a esporulação do fungo e a umidade relativa do ar deve estar acima de 98% . A penetração de Plasmopara viticola se dá pelos estômatos presentes na face inferior das folhas, e nos pedicelos, quando a baga é ainda jovem.

Fig. 2. Água livre na folha, condição para infeção de míldio. (Foto: J. Dimas G.M.)
Controle: O controle preventivo do míldio deve ser iniciado com a escolha do local adequado para instalação do parreiral, evitando-se áreas de baixada ou com face sul.
Medidas que melhorem a aeração da copa, como espaçamento adequado, boa disposição espacial dos ramos sobre o aramado e poda verde (desbrota, desnetamento, desfolha, desponte, etc.), devem ser adotadas, objetivando diminuir o tempo de molhamento foliar. No controle químico, devem ser utilizados fungicidas registrados para a cultura (Tabela 2). Esses produtos podem ter ação protetora ou de contato, ação de profundidade ou ação sistêmica. Os produtos de contato só protegem a superfície atingida pela aplicação e não têm ação sobre o fungo no interior dos tecidos. Os produtos com ação de profundidade podem atuar matando o fungo no interior das folhas até 2 dias após a infecção, protegendo, porém, apenas as partes nas quais foram aplicados. Já os produtos sistêmicos, devido à sua capacidade de translocação, podem atuar em partes da planta que não foram atingidas na aplicação.
Os fungicidas protetores do grupo dos ditiocarbamatos como ziram, zineb e mancozeb, são efetivos no controle de míldio. Entretanto, têm pouca persistência na planta e são facilmente destruídos por altas temperaturas, radiação solar e chuvas, condição presente em regiões de clima tropical úmido. Esses produtos podem ser misturados aos cúpricos, não apresentam fitotoxicidade às plantas e requerem aplicações a cada 3 a 4 dias no período chuvoso. Caso ocorram chuvas fortes, porém, há necessidade de repetir a pulverização. Os fungicidas que têm ação de profundidade são mais eficazes quando aplicados preventivamente.
Embora sejam mais eficazes que os fungicidas de contato, os fungicidas sistêmicos, por serem mais específicos, não devem ser utilizados em mais de duas ou três aplicações por ciclo vegetativo, diminuindo os riscos do aparecimento de raças resistentes do fungo. Deve ser adotado, portanto, um programa de tratamentos com alternância de produtos com diferentes modos de ação, aplicando-se fungicidas sistêmicos nos estádios de maior sensibilidade da videira, ou seja, nos períodos de pré-floração e frutificação. No ciclo de formação de plantas, caso não seja deixada produção na entressafra ("safrinha"), devem ser utilizados apenas produtos com ação de contato.
Os fungicidas a base de cobre não devem ser usados durante o florescimento e pegamento dos frutos, pois podem causar fitotoxicidade. Sua utilização é recomendada entre os estádios de 'chumbinho' até o amolecimento das bagas, e logo após a colheita. Entre os estádios de ervilha até a compactação dos cachos o cobre a ser usado deve ser na formulação de hidróxido de cobre na formulação GrDA, objetivando-se não manchar a uva.
No período chuvoso, quando as condições são mais favoráveis ao desenvolvimento do míldio, pode-se adotar a seguinte estratégia de tratamentos durante o ciclo:
Do estádio de duas a três folhas separadas até 3 dias antes da florescimento aplicar produtos de contato, exceto à base de cobre, a cada 4 dias;
Um a dois dias antes de o florescimento aplicar metalaxyl ou fenamidone, repetindo-se aos sete dias após a primeira aplicação. Após a segunda aplicação de fungicidas sistêmicos, aplicar oxicloreto de cobre intercalado com outros produtos de contato a cada quatro dias, até o estádio de 'ervilha';
Entre os estádios 'ervilha' até a compactação dos cachos aplicar hidróxido de cobre
GrDA intercalado com outros produtos de contato a base de mancozeb formulação SC, os quais não mancham a uva.
Após a colheita, aplicar calda bordalesa a 1% alternada com mancozeb a cada 10 dias, objetivando-se manter a folhagem sadia para recompor asRESERVAS  das plantas.
No período seco, o mais indicado é o acompanhamento das condições meteorológicas para verificar se há ou não a necessidade de algum tratamento em função da presença de água livre nas folhas, fator condicionante da infecção.
Em termos gerais, para definir um calendário de tratamentos para míldio deve-se levar em consideração alguns aspectos básicos: míldio só infecta os tecidos verdes se tiver água livre.
Os produtos de contato só atuam preventivamente e só protegem as superfícies aplicadas, não combatendo o fungo no interior dos tecidos.
Os produtos que têm ação de profundidade só têm efeito na área aplicada por um período de 5 a 7 dias. Sua eficácia será tanto maior quanto mais próximo de 100% de área foliar for coberto pêlos produtos. Esses produtos matam o fungo dentro das folhas se aplicado até dois dias após a infecção.
Os produtos sistêmicos, que se translocam na planta, protegem por cerca de 7 dias em áreas tropicais, e seu uso deve ser restringido a duas aplicações no ciclo de produção. Esses produtos matam o fungo no interior da folha quando aplicado até três dias após a infecção.
A cv. Niágara Rosada exige maior cuidado no período de frutificação, uma vez que a infecção no cacho causa grandes perdas;
Entre os produtos registrados, após o estádio de 'ervilha' dar preferência para aqueles que não mancham a uva.
Requeima das folhas - Alternaria sp. A requeima foliar da videira, problema recentemente constatado em condições tropicais, tem causado grandes preocupações para os produtores de uvas de mesa da região de Jales, SP. Observações iniciais ocorreram no ano de 1998 em uvas americanas (Vitis labrusca L.) e híbridas no início da maturação dos frutos e, no ano seguinte, o problema passou a ser observado também nas cultivares de uvas finas (Vitis vinifera L.) durante o ciclo de formação. A doença tem sido muito agressiva, uma vez que provoca a queda prematura de folhas e prejudica a maturação dos frutos, acarretando em baixos teores de açúcares, elevada acidez e fraca coloração, tornando os cachos inadequados para a comercialização. Além disso, compromete a formação e maturação dos ramos no ciclo seguinte, devido ao menor acúmulo deRESERVAS  de carboidratos.
Sintomatologia: Os sintomas começam a ser percebidos como manchas bem definidas, de contorno irregular e coloração arroxeada na face superior das folhas (Figura 3a). Nesta fase também pode ser facilmente observada necrose interna de tecidos expondo a face de baixo da folha contra a luz do sol. As manchas, em seguida, tornam-se necróticas e de coloração cinza-escura, evoluindo para os bordos, aumentando rapidamente e podendo coalescer e cobrir quase todo o limbo foliar (Figura 3b). Em seguida ocorre a morte e queda das folhas, permanecendo temporariamente os pecíolos presos nos ramos. A doença tem ocorrido com maior freqüência no início do amolecimento das bagas, causando desfolha precoce e prejudicando a maturação da uva (Figura 3c).
Fig. 3a. Sintomas de requeima das folhas. (Foto: J. Dimas G.M.)

Fig. 3b. Sintomas avançados de requeima das folhas. (Foto: J. Dimas G.M.)

Fig. 3c. Maturação prejudicada devido a desfolha precoce causada pela requeima. (Foto: J. Dimas G.M.)
Controle: Embora a doença venha sendo objeto de observação por pesquisadores da
Embrapa Uva e Vinho e da Universidade Camilo Castelo Branco (UNICASTELO), até o presente momento não há resultados de pesquisa que permitam a recomendação de medidas adequadas para o seu controle. No entanto, em observações de campo verifica-se um bom controle da doença na cv. Niágara Rosada quando as pulverizações são iniciadas 30 dias após a poda e se estendem por até dez dias após o início do amolecimento das bagas, utilizando-se fungicidas a base de tebuconazole (quinzenal) e mancozeb SC (semanal), Maia1. Esses produtos têm proporcionado bom controle de míldio e alternaria sem manchar a uva.
Ferrugem - Phakopsora euvitis Causada pelo fungo Phakopsora euvitis, que tem grande potencial de disseminação, a doença foi inicialmente detectada na Ásia e na América do Norte, sendo constatada pela primeira vez no Brasil no ano de 2001 em municípios da região norte do Estado do Paraná. Atualmente, a ocorrência do patógeno já se estendeu aos parreirais de outras regiões vitícolas do país.
Phakopsora euvitis, ocorre principalmente, em áreas tropicais e subtropicais onde a severidade da doença parece ser maior que nas regiões de clima temperado. Registros preliminares têm mostrado que cultivares americanas e híbridas como Niágara e Isabel são mais suscetíveis que variedades européias (V. vinifera).


Sintomatologia: Os sintomas da doença na videira são lesões amareladas a castanhas de várias formas e tamanhos nas folhas, podendo aparecer manchas cloróticas em áreas correspondentes na face superior (Figura 4a). Massas amarelo-alaranjadas de uredosporos são produzidas na face inferior das folhas (Figura 4b), com manchas escuras necróticas na face superior. Ataques severos do fungo causam senescência e queda prematura de folhas, prejudicando os frutos e reduzindo o vigor das plantas no ciclo seguinte.

Fig. 4a. Sintomas de ferrugem na face superior das folhas. (Foto: J. Dimas G.M.)

Fig. 4b. Frutificação da ferrugem na face inferior das folhas. (Foto: J. Dimas G.M.)
Controle: O controle químico da ferrugem durante o ciclo produtivo é necessário em poucas áreas, uma vez que, apesar de ser elevado o número de pústulas nas folhas, a velocidade de desfolha é relativamente lenta. Após a colheita, no entanto, essa velocidade aumenta sensivelmente, chegando a desfolhar a cultura durante a fase de repouso. Dessa forma, o controle deve ser iniciado próximo à colheita e na fase inicial do repouso para evitar a desfolha precoce. Em ensaios de avaliação da eficiência de fungicidas no controle da ferrugem da videira, obtiveram-se bons resultados quando foram realizadas pulverizações com produtos do grupo dos triazóis (tebuconazole, metconazole e cyproconazole) e um produto do grupo das estrobirulinas (azoxystrobin), já registrados para cultura da videira (Tabela 1).
Antracnose - Elsinoe ampelina Sintomatologia: O fungo ataca todos os órgãos verdes da planta (folhas, gavinhas, ramos, inflorescências e frutos). Nos ramos, a doença causa o aparecimento de cancros com formatos arredondados de coloração cinzenta no centro e bordas de coloração preta (Figura 5). Nas folhas com a evolução da doença as manchas ficam perfuradas no centro. Nas bagas também aparecem manchas circulares de cor cinza no centro e preta nas bordas. Na região noroeste paulista a doença não tem ocorrido, porém poderá assumir maior importância em regiões com maior intensidade pluviométrica.
Fig. 5. Formação de cancros nos ramos. (Foto: J. Dimas G.M.)
Condições predisponentes: O desenvolvimento do fungo é favorecido pela alta umidade provocada por precipitação, nevoeiro e orvalho. Temperaturas de 2ºC a 32ºC permitem que o patógeno se desenvolva, sendo a temperatura ótima de 20ºC.
Controle: O controle deve ser iniciado na época da poda com a queima de ramos doentes e com tratamento químico, visando eliminar ou diminuir o inoculo inicial. A cv. Niágara Rosada é menos sensível à antracnose do que as uvas finas. Na região Noroeste Paulista a antracnose não tem ocorrido. Em outras regiões se ocorrer o controle deve ser preventivo até os primeiros 60 dias após a poda. Os produtos recomendados para o controle de antracnose e as épocas de aplicações estão apresentados na Tabela 2.
Mancha das folhas - Pseudocercospora vitis Também conhecida como isariopsis, a doença, causada por Isariopsis clavispora=Pseudocercospora vitis, tem grande importância em cultivares americanas, entre elas a Niágara, principalmente em regiões mais quentes, onde a doença evolui rapidamente. A desfolha precoce é o principal dano, acarretando o enfraquecimento da planta e deficiência na maturação dos ramos e consequentemente má brotação no ciclo seguinte.
Sintomatologia: Os sintomas se manifestam principalmente nas folhas, onde são bastante característicos. No limbo foliar aparecem manchas bem definidas, de contorno irregular e coloração inicialmente castanho-avermelhada, que mais tarde escurece. As manchas podem atingir até 2 cm de diâmetro e apresentam um halo amarelado ou verdeclaro bem visível (Figura 6); na face oposta da folha, no tecido correspondente, ocorre uma coloração pardacenta. Não há perfurações nem deformações da folha. As frutificações do fungo se desenvolvem tanto na face superior como na inferior da folha. O ataque severo da doença provoca a queda prematura das folhas, impossibilitando a planta recompor asRESERVAS  de carboidratos para o ciclo seguinte.
Fig. 6. Sintomas de manchas das folhas. (Foto: O.R.Sônego)
Condições predisponentes: A doença se desenvolve em condições de alta temperatura e umidade. As folhas basais normalmente são as mais afetadas. O aparecimento dos sintomas ocorre, geralmente, no início da maturação da uva. A ausência ou um número insuficiente de tratamentos para o controle do míldio pode favorecer o desenvolvimento da doença.
Controle: As medidas adotadas para o controle do míldio, exceto os produtos cúpricos, geralmente são suficientes para manter a doença em níveis baixos. Os tratamentos químicos pós-colheita dão uma melhor proteção à folhagem, mantendo-a por mais tempo na planta.
Podridões do cacho - Melanconium fuligineum e Glomerella cingulata As principais podridões do cacho da Niágara são a podridão amarga causada pelo fungo Melanconium fuligineum e a podridão da uva madura, causada por Glomerella cingulata. Provocam perdas tanto na qualidade como na quantidade da uva produzida.
Sintomatologia: Podridão amarga - As infeções iniciam-se após a floração e permanecem latentes até a maturação da uva, quando os sintomas são mais evidentes. Inicialmente se observa uma lesão aquosa, marrom que aumenta em forma de anéis concêntricos até envolver toda a baga. Em condições favoráveis, aparecem pústulas escuras, irregulares e de tamanho variável, que são as estruturas do fungo. Quando os frutos úmidos são manipulados, liberam esporos em forma de resíduos escuros. Os frutos atacados podem enrugar e mumificar.
Podridão da uva madura: As infeções iniciam-se após a floração e permanecem latentes até a maturação da uva. Os sintomas mais evidentes são observados nos cachos na fase de maturação ou em uvas colhidas. Sobre as bagas atacadas surgem manchas circulares, marrom-avermelhadas, que, posteriormente, atingem todo o fruto, escurecendoo. Em condições favoráveis (alta umidade), aparecem as estruturas reprodutivas do fungo (acérvulos) na forma de pontuações cinza-escuras, concêntricas, das quais exsuda uma massa rósea ou salmão, que são os conídios do fungo. Esta massa rósea serve para diferenciar da podridão amarga. Estas doenças podem ocorrer simultaneamente no mesmo cacho, provocando a murcha do cacho e a mumificação de parte ou de todas as bagas.
Condições predisponentes: O desenvolvimento e a esporulação dos fungos são favorecidos por alta umidade e temperaturas em torno de 25 a 30°C . O vento, a chuva e os insetos auxiliam na disseminação dos esporos dos fungos. Ferimentos nos frutos favorecem o estabelecimento dos patógenos. Adubação com nitrogênio em excesso proporcionam alto vigor à planta, o que favorece a infeção e o desenvolvimento da doença no fruto. Na podridão da uva madura as infeções podem ocorrer em todos os estádios de desenvolvimento do fruto. No final da floração ou em bagas jovens, o fungo penetra na cutícula e permanece latente até o inicio da maturação da uva, quando então os sintomas tornam-se visíveis. O fungo sobrevive em frutos mumificados e pedicelos e na primavera, com elevada umidade, produz abundante frutificação, que é a fonte primária de inóculo.
Controle: As podridões podem ser melhor controladas por um programa integrado de manejo, onde são observadas as seguintes práticas: adotar espaçamentos que proporcionem uma boa aeração e insolação; evitar excesso de nitrogênio; colher todos os cachos, evitando assim que eles mumifiquem no pé; controlar doenças como o míldio; controlar as pragas da parte aérea; proporcionar boa distribuição superficial dos ramos sobre o aramado, realizar o abaixamento de cachos, deixando-os livres; realizar poda verde (desbrota, desfolha, desnetamento e esladroamento); tratar com fungicidas específicos; no caso do uso de fungicidas sistêmicos, alterná-los com fungicidas protetores; iniciar os tratamentos bem antes da compactação do cacho, geralmente no final da floração com os produtos da Tabela 2.
Ocorrência das doenças fúngicas em regiões de clima tropical úmido Na região noroeste do Estado de São Paulo o controle tem sido necessário apenas para míldio, requeima e ferrugem. O controle não é difícil e alguns produtos controlam simultaneamente ferrugem e requeima das folhas, assim como míldio e requeima, permitindo reduzir o número de aplicações durante o ano. Em outras regiões de clima tropical mais úmido, como na região norte do Brasil, as outras doenças como; antracnose, mancha das folhas e as podridões de cachos poderão assumir importância econômica e necessitar de controle a partir de observações locais de severidade. Na figura 7 observa-se os estádios fenológicos mais suscetíveis para cada uma das doenças citadas.
Viroses
As doenças causadas por vírus nem sempre despertam a preocupação dos viticultores, talvez por desconhecimento da sintomatologia ou mesmo por seus efeitos mais graves aparecerem a médio prazo, embora alguns vírus possam causar a morte de mudas com idade entre um a três anos. A videira por ser propagada vegetativamente por estacas (pé-franco) ou pela enxertia (muda enxertada), facilita a disseminação das viroses. A produção da muda pelo viticultor, utilizando material vegetativo do seu próprio vinhedo ou de vizinhos, sem o conhecimento do estado sanitário (presença ou não de vírus), tem favorecido a disseminação dessas doenças e, com muita freqüência, o acúmulo de mais de um tipo de virose na mesma planta.
A uva Niágara pode ser afetada por inúmeros vírus, embora a maioria de forma latente, ou seja, a planta afetada não mostra os sintomas característicos da doença e, quando mostra, estes sintomas aparecem somente em determinadas fases do ciclo da planta, dificultando a sua observação. Entretanto, algumas viroses podem causar prejuízos consideráveis a esta variedade, entre as quais, a doença "Enrolamento da Folha" e a doença do "Complexo Rugoso da Videira".
"Enrolamento da Folha da Videira" (Grapevine leafroll-associated virus, GLRaV) É uma doença complexa, onde podem estar associados até nove vírus diferentes.
Destes, os dois de maior importância econômica GLRaV-1 e três já foram identificados no Brasil, além do GLRaV-2. Os sintomas dessa doença, em plantas de Niágara, não são muito pronunciados, mas podem ocorrer queimaduras entre as nervuras principais e leve enrolamento das folhas, bem como redução no desenvolvimento da planta. É importante salientar que as cultivares de porta-enxerto, em geral, não mostram sintomas dessa virose, impossibilitando distinguir uma planta doente de uma sadia, o que facilita a utilização de material contaminado.
"Complexo rugoso da Videira" Nesta doença estão associadas quatro viroses que afetam o lenho das plantas, especialmente o tronco, sendo: Acanaladura do lenho de Kober (Grapevine virus A, GVA); Caneluras do tronco de Rupestris (Rupestris stem pitting-associated virus, RSPaV); Acanaladura do lenho de LN33 e Intumescimento dos ramos (Grapevine virus B, GVB). Estas viroses, com exceção da última, são conhecidas na prática por caneluras do tronco ou lenho rugoso por causarem sintomas muito semelhantes nos troncos das plantas.
Virose do intumescimento dos ramos
Plantas de Niágara afetadas por esta virose mostram engrossamento em um ou mais entrenós do ramo do ano (Figura 8), com fendilhamento longitudinal da região afetada. Eventualmente estes sintomas podem ser observados, também, no pecíolo das folhas próximas à região afetada do ramo. As plantas doentes definham gradativamente com eventual morte de ramos e a brotação é fraca e atrasada.
Fig. 8. Sintomas de intumescimento de ramos. (Foto: G.B.Kuhn)
Virose das Caneluras do Tronco ou Lenho Rugoso As plantas de Niágara afetadas por estas viroses apresentam caneluras no tronco, sob a casca, inclusive no porta-enxerto. As caneluras (Figura 9a) são ranhuras longitudinais que correspondem ao local onde a casca penetra no lenho do tronco (Figura 9b), trazendo como conseqüência a má formação dos vasos condutores da seiva. As plantas doentes, em geral, diminuem o vigor e as gemas brotam mais tardiamente. A casca do tronco é mais grossa e de aspecto corticento e escamada. Também pode ocorrer na região da enxertia uma diferença de diâmetro entre o enxerto e o porta-enxerto. A morte de plantas pode ocorrer a partir de 6 e 8 anos de idade e até mais cedo, quando o porta-enxerto é muito sensível.

Fig. 9a. Sintoma da virose das caneluras do tronco. (Foto: G.B.Kuhn)

Fig. 9b. Virose das caneluras do troco, detalhe da casca penetrando no lenho. (Foto: G.B.Kuhn)
Todas estas viroses são transmitidas pelo material de propagação da videira. Até o momento não foi constatada a transmissão dos vírus através das ferramentas como a tesoura de poda, canivete para enxertia, etc. Na Europa já está comprovado que espécies de cochonilhas transmitem alguns vírus do Enrolamento da Folha e do Complexo Rugoso. No Brasil, estudos estão sendo conduzidos e ainda não se tem resultados conclusivos se as espécies que ocorrem nos nossos vinhedos são ou não vetoras de vírus. Recomenda-se, portanto, que se faça um controle rigoroso das cochonilhas, não só pelos sérios danos físicos que causam à cultura mas, também, pela possibilidade de transmitirem vírus. A substituição de variedades copa, devido a problemas de mercado ou de produtividade, antendo-se os porta-enxertos originais é uma prática comum adotada pelos viticultores em algumas regiões do Brasil. Essa prática, embora permita a substituição rápida da variedade copa sem interrupção de um ano de produção, oferece grandes riscos, pois se o portaenxerto estiver infectado, a nova copa também será contaminada. Dessa forma, quando não se tem a garantia da sanidade do material original, é recomendável o arranquio das plantas e o plantio de novos porta-enxertos sadios para serem enxertados com garfos sadios.
Os principais prejuízos causados pelas viroses estão relacionados a queda acentuada da produção, diminuição do teor de açúcar da uva, maturação irregular e deficiente, diminuição da longevidade e morte de plantas.
Controle: Como no campo não é possível fazer o controle químico das viroses, o único modo seguro de se implantar um vinhedo sadio é adquirindo o material de propagação (porta-enxerto e copa) livre de vírus. Para isso deve-se obter o material propagativo (mudas, estacas, garfos) de viveiristas que multipliquem material sadio sob fiscalização dos órgãos oficiais. A idoneidade da origem do material propagativo é de fundamental importância pois, no momento da aquisição, tanto de mudas como de estacas de porta-enxertos e garfos das produtoras, dificilmente se poderá visualizar sintomas no caso do material estar infectado. Somente com o desenvolvimento das plantas no vinhedo é que o produtor vai se dar conta que adquiriu material contaminado.
Tabela 1. Fungicidas registrados no Ministério da Agricultura, pecuária e Abastecimento para controle das doenças fúngicas da videira.
Ingrediente ativo Produto
Comercial Formulação Classe Toxicológica
Dose (g ou mL/100 L) P.C.
Modo de ação
Azoxystrobin Amistar GrDa IV 24 S
Benalaxyl + macozeb Galben-M PM I 200 a 250 S
Captan 500 PM PM I 240 C
Captan SC SC I 400 C Captan
Orthocide 500 PM I 240 C
Carbendazim Derosal 500 SC SC I 100 S
Bravonil 500 SC I 400 C
Bravonil 750 PM PM I 200 C
Bravonil Ultrex GrDa I 150 C
Isatalonil PM I 200 C Daconil BR PM I 200 C
Daconil 500 SC I 300 C
Chlorothalonil

Dacostar SC I 400 C

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